8.10.06

O Fator Minas

Por RUDÁ RICCI

A eleição, neste segundo turno será, em grande parte, definida pelos eleitores com renda abaixo de dois salários mínimos e pelo desejo do eleitor mineiro. No restante, o país encontra-se dividido e parece relativamente estável em suas convicções. Minas, contudo, apresenta um cenário incerto. O segundo colégio eleitoral do país possui 13,6 milhões de votantes, sendo 1,7 milhões localizados na capital. O fator Minas tem nome: Aécio Neves. Foi campeão de votos com 77,04% dos votos válidos, ao contrário do que ocorreu em 2004, demonstrou forte capacidade de transferência de votos para seus correligionários. O exemplo mais significativo foi a vitória do seu candidato ao Senado. Eliseu Resende capengava até colar sua imagem na do governador. O resultado foi uma surpreendente virada que culminou com a vitória de 60,89% dos votos válidos. O mesmo ocorreu com os campeões de voto para a Câmara Federal. Os quatro mais votados estão diretamente vinculados ao núcleo de poder do governo estadual. A situação se repete entre cinco dos seis mais votados à Assembléia Legislativa. Paradoxalmente, Lula recebeu 50,8% dos votos em Minas Gerais e Alckmin 40,6%.
O que parece um paradoxo é, na verdade, uma ilustração acabada do estilo mineiro de fazer política. Este é o trunfo de Aécio Neves junto ao seu eleitorado: é um político absolutamente mineiro. Na eleição para prefeito de Belo Horizonte, o governador mineiro apoiou, sem entusiasmo, o candidato aliado de seu partido e, sem dizer, todos souberam que apoiava efetivamente Fernando Pimentel, do PT, vitorioso, com quem mantém relações mais que cordiais. O estilo mineiro de fazer política é estranho para o restante do país porque é efetivamente peculiar. É possível afirmar que é o estilo mais feminino de todo o país. Feminino em virtude de uma herança política. Em diversos momentos da história econômica de Minas Gerais, os homens tiveram que se ausentar, seja para acompanhar a rotina das tropas de animais, seja para conseguir emprego sazonal em regiões de produção agrícola extensiva. A mulher mineira assumiu, nos grotões do Estado, a administração do lar. Não por outro motivo, emergem como figuras públicas do Estado muitas mulheres como Xica da Silva e Dona Beja. A mulher mineira lidera a vida privada. Sua figura forte e emergente influenciou e influencia o modo de agir nos espaços públicos. Assim, o estilo mineiro de fazer política é caracterizado por traços femininos: a valorização das relações privadas e da fidelidade, a desconfiança em relação aos arroubos e bravatas públicas, menor agressividade pública na disputa, a subjetividade e a linguagem não verbal como eixo da comunicação entre lideranças e liderados. Alguns pesquisadores sociais chegam a sugerir que este estilo poderia ser dividido entre mineirice (o estilo mais intimista e recatado) e mineiridade (a indignação como mote para liderar movimentos libertários no país). Uma distinção que não se verifica matematicamente no dia-a-dia.

Aécio Neves personaliza este imaginário e prática políticas. É absolutamente discreto e fala por símbolos. Diz sem falar. Esta Folha revelou alguns de seus mecanismos para bloquear qualquer jornalismo investigativo em Minas Gerais e algumas maquiagens na execução orçamentária. É evidente que uma imprensa mais investigativa tiraria parte do seu brilho. Mas este não é o mote de sua popularidade. O mote é seu estilo mineiro de fazer política, que dificilmente é compreendido pelo restante do país. E este é o motivo de Minas voltar a ser o pêndulo político-eleitoral, já neste segundo turno. Para o governador reeleito, suas pretensões para 2010 passam pelo aumento de sua popularidade no nordeste e diminuição do poder dos paulistas, principalmente tucanos, paradoxalmente seus adversários mais imediatos. O estilo mineiro, por este motivo, será decisivo ao longo do segundo turno. Se Alckmin se destacar e crescer nas intenções de voto, Aécio Neves será obrigado a liderar a virada, a partir de Minas, e sair à campo. Não será sua opção mais segura. Mas se Lula mantiver a dianteira nas intenções de voto, voltaremos a nos encontrar com o que ocorreu em 2004: um discurso dissimulado, que diz, mas não fala. Os mineiros sabem compreender este discurso. O restante do país precisará aprender a compreendê-lo.
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(*) Rudá Ricci - Sociólogo, 43 anos, doutor em Ciências Sociais, coordenador do Instituto Cultiva e membro do Comitê Executivo Nacional do Fórum Brasil do Orçamento. E-mail: ruda@inet.com.br . Site: www.cultiva.org.br

2 pitacos:

Anônimo,  10:19  

Um texto bem "mineiro" que diz, mas não fala nada.

Anônimo,  08:39  

Respondendo ao anônimo,
Estarei em Maringá nesta quarta-feira, dia 18 de outubro e, se desejar, explico pessoalmente o conteúdo do artigo. Mas, antecipo com uma explicação bem didática para que você entenda sem nenhum problema.
O meu artigo sugere que: a) quem pode decidir a eleição presidencial no segundo turno é Aécio Neves; b) os outros estados estão praticamente estabilizados e possuem baixa margem de alteração da situação ocorrida no primeiro turno; c) Minas Gerais possui o segundo maior colégio eleitoral do país e o governador mineiro demonstrou grande capacidade de transferência de votos; d) contudo, os maiores adversários de Aécio para 2010 é o PSDB paulista. Fora deste bloco, não tem muitos adversários. Como Aécio vinha negociando apoios e alianças com o PT (inclusive acordos com o prefeito petista de BH), meu artigo sugere que ele não fará movimento nenhum em direção ao Alckmin, embora jogue para a platéia, demonstrando ser fiel ao PSDB. Não será a primeira vez que atua desta maneira.
Espero que você entenda meu artigo, que não é mineiro porque sou paulista. E, assim, não constumo fugir de debates. Assumo nitidamente minhas análises e posições políticas. Uma prova é que nunca me escondi atrás do anonimato. Apenas uma leve estocada para provar que não sou mineiro!
Um abraço,
Rudá Ricci

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