3.3.09

Dica de site


Quem gosta da história do rádio e da televisão não pode deixar de conhecer este site. Ali você encontra momentos históricos do áudio e do vídeo brasileiros e fotos da era de ouro do rádio, como esta do jovem Flávio Cavalcanti, na Nacional do Rio.

1 pitacos:

Anônimo,  12:12  

Flávio Cavalcanti era um sujeito polêmico, do tipo que todo mundo adorava falar mal. É fácil falar mal sem conhecimento de causa, basta repetir o que os outros dizem. Aí vira linchamento. Falar mal com conhecimento de causa e mostrar argumentos irrefutáveis é mais complicado. O mesmo serve para falar bem. Não basta dizer que o sujeito é dez, mas provar porque ele é. Ou não é.
Tem gente que fala bem, pega exemplos bizarros e causa constrangimento. Sem contar os puxa-sacos de plantão, que sempre são numerosos. Estou falando porque as pessoas adoravam falar mal do Flávio e se ele era um mala danado, também fez coisas que o classificariam como sujeito de coragem e solidário nas horas certas.
Flávio Cavalcanti por exemplo fez uma coisa no mínimo corajosa. Leila Diniz depois da entrevista que deu ao Pasquim virou persona non grata no Rio de Janeiro. A ditadura achou aquilo ofensivo, provocante e imoral. E ficou puta da vida com ela. E quando ela ficava puta ela tratava de perseguir. E ela tinha apoio de setores conservadores não só do Rio, como do País. Foi fácil baixar a censura e fechar as portas para Leila Diniz lá por 1970, ou coisa parecida.
A Janete Clair - para quem hoje todos só tem elogios, a grande dama da televisão brasileira - teria dito na lata que não tinha papel para Leila na próxima novela da Globo, porque a novela não tinha personagem de prostituta. A dona Janete foi preconceituosa, além de covarde de atacar alguém contestada (perseguida embora não com tanques e soldados) pela ditadura. A Janete apenas repetia o que os patrões mandavam: a Globo simplesmente rifou Leila.
E como a barra ficou pesada - Chico Buarque foi para a Itália, Caetano e Gil para a Inglaterra, Vandré escondido no Chile e assim por diante - e o ambiente estava feio para aquele pessoal de esquerda ainda que festiva, Leila teve de se esconder no Brasil mesmo porque não tinha grana para sair para um exílio voluntário e preventivo. Quem a escondeu? Flávio Cavalcanti em um sítio que ele tinha no Rio. É nestas horas que se diferencia um sujeito de caráter de um cafajeste.
Quando a maré baixou, Flávio a trouxe para o Rio e contratou-a como jurada na Tupi, em seu programa, que aliás, era bem divertido e tinha gente boa como a Aracy de Almeida, Erlon Chaves e outros. Claro que, depois que Leila morreu num acidente de avião e deixou uma filhinha órfã - Janaina - criada por Marieta Severo e Chico Buarque, ela virou santa e todo se esqueceu que a queriam na cruz. Mas na hora agá, quem mostrou presença foi seu Flávio. Que também tinha os seus defeitos. Mas hoje preferi falar de algo bom que ele tinha: esta coragem que revelou no momento certo.
Ninguém é totalmente imperfeito - a não ser Ricardo Barros, mas isto por opção pessoal e ninguém pode fazer nada - e ninguém é totalmente perfeito, nem Dom Jaime - que aliás sempre esteve acima de qualquer crítica, talvez por falta de ousadia dos críticos.
Mas o certo é que falar mal, assim como falar bem, é uma arte. E que é bem exercida quando se pega principalmente os atos da pessoa e não a pessoa de forma aleatória. E isto implica numa coisa dolorosa sem a qual a arte fica comprometida: de reconhecer altruismo e dignidade em pessoas que detestamos, quando elas são altruístas e merecem elogios e reconhecer defeitos repulsivos em pessoas que admiramos, ainda que corramos o risco de enfrentarmos uma carranca agressiva. É a única maneira de deixar as coisas claras, a única maneira de exercer a função.
Quanto ao resto, é turba: que na hora de mostrar coragem, normalmente bate em retirada.

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