Santos Reis
(O texto a seguir é coisa de blog-diário, de biografia)
Agora me toquei como o tempo passa. Hoje, dia de Santos Reis, está fazendo 26 anos que sofri meu primeiro acidente de carro, na avenida Brasil, logo depois da Igreja São José, indo em direção ao Aeroporto. Tinha 18 anos. Voltava de uma reportagem feita na agência dos Correios, no banco do carona. Havia acabado de chover e lembro que seu Caetano Merotti estava a uns 50 km por hora quando um Fiat veio descendo a Mathias de Albuquerque e o motorista, procurando um endereço, atravessou a Brasil devagarinho. Eu estava com um Chicabon na boca e quando seu Caetano disse "Filadaputa vai atravessar!...", olhei pra ele e só senti a pancada. Ele entrou com o Fusca amarelo do jornal na porta do Fiat. A pancada não foi muito forte, mas eu estava distraído. Meu rosto foi direto no pára-brisas, e não fossem os óculos estilo John Lennon teria perdido pelo menos uma vista. A maior cicatriz que tenho está justamente na linha do aro dos óculos. Aliás, tive que comprar outros, pois os meus caíram no asfalto. Tive sorte também de ter olhado pra cima e já não estar mais com o palito na boca, senão teria sido um arraso.
Na volta da pancada olhei pra minha mão esquerda, que cortou-se no pára-brisas. Olhei pro seu Caetano e ele me mandou descer. Meu rosto estava completamente ensangüentado, havia cortes no couro cabeludo, no rosto todo e debaixo do queixo. Minha orelha esquerda abriu-se, ficou segura só pela parte de cima. No que desci, um Fusca, acho que azul, parou, o motorista fez eu entrar no banco da frente e me levou para a Santa Casa, a duas quadras dali. Ficou na mente uma música, enquanto ia para o hospital: "Abre a porta/fecha a porta/abre-te Sésamo", do disco do Raul lançado por aqueles dias. Abri a porta do carro com o joelho, com a mão direita segurando o rosto e a mão esquerda e fui direto para a mesa de cirurgia. Levei 39 pontos no rosto. A orelha foi costurada quando a anesteisa já não estava fazendo efeito. O médico pediu preu agüentar a dor. Estava deitado na mesa, o médico me costurando, quando o Frank Silva entrou e perguntou se estava tudo bem comigo. Respondi fazendo sinal de positivo com a mão direita. Ele saiu, o médico ficou brabo.
Passei a noite na Santa Casa, na ala ainda feita de madeira. A telefonista do jornal, que era onde hoje é a rodoviária nova, subiu à janela para me ver, pois tinha terminado o horário de visitas. Era a irmã do "Coelho", o Vanderlei, hoje dono da Informar. No dia seguinte, com o olho esquerdo completamente vermelho, parecendo que tinha uma bola de futebol americano atravessada no rosto, com a cabeça e a mão esquerda enfaixadas, ainda acabei trabalhando um pouco no jornal - fiz um texto na Remington 100. Deveria ter feito uma foto, como sugeriu meu pai. Andava na rua e chamava a atenção, parecia um ET. Treze anos depois, sofreria meu segundo e pior acidente de carro.
3 pitacos:
Voce escreve muito bem. Nao tem nada de novo num acidente mas os detalhes e as metaforas que voce usa fazem ver a cena. To curioso pra ler o resto.
Legal Rigon. Contando essas casos, além de conhecer um pouco da sua vida, também relembramos ou ficamos sabendo de coisas e pessoas que fazem parte da história da cidade.
Que bom que vc sobreviveu...
O Frank sempre foi assim; além de pagar mal,mesmo quase morto, você tinha que trabalhar pra ele.
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Vê lá o que vai escrever! Evite agressão e preconceito. Eu não vou mais colocar xizinho; na dúvida, não libero o comentário.