22.1.07

Factual, factóides, pseudo-facto e verossímel-facto

Do ex-blog de Cesar Maia:

1. Usar a expressão correta para caracterizar a cobertura da imprensa, ajuda muito a avaliar a sua qualidade. Exclui-se daqui a reportagem efetivamente Factual. A cobertura factual não é neutra, apenas interpreta um fato apresentado de acordo com o acontecido. Ou seja: duas coberturas podem ser interpretadas de formas distintas e ambas serem factuais. Por exemplo: Chávez estatizou isso e aquilo. Uns podem achar bom e outros mal. Mas o fato descrito é o mesmo.
2. Em geral se usa o termo Factóide de forma errada, como se fosse algo inventado. Não é assim. Factóide é um fato carregado de imagem. No mundo de hoje a linguagem que prevalece é a da imagem. Nesse sentido, um fato para ser noticia precisa ser carregado de imagem. A prioridade do noticiário tende a corresponder à carga de imagem que tem um fato. Isso não quer dizer que não possa haver coincidência. Por exemplo, a cratera do metrô de SP. É um fato relevante e carregado de imagem. Uma foto focalizada na perna cruzada de uma personalidade-mulher, não tem maior importância, mas é carregada de imagem.
3. Os fatos ou são escritos pelos repórteres como narrativas desenhando imagens, ou se lidos não terão memorabilidade. Factóide -portanto- é o fato carregado de imagem, independente de sua importância. Um fato sem imagem tende a não ser noticia, ou não se sustenta como noticia. No mundo político a comunicação deve buscar a imagem para virar noticia. Isso é o Factóide em política, independente da relevância do fato. Melhor que seja relevante.
4. Pseudo-facto é a fraude. Ou seja, uma reportagem tratar de um fato inexistente e apresentá-lo como tendo ocorrido. Às vezes ocorre por irresponsabilidade da fonte e ingenuidade do repórter. Outras vezes por irresponsabilidade do repórter e falsidade -digamos-ideológica, como o famoso e recente caso do repórter do New York Times pilhado num caso desses. Políticos às vezes criam fatos que comprometem seus adversários e tentam emplacá-los como verdade e até conseguem por confiança na fonte, especialmente quando ela é de alta patente.
5. Verossímil-Facto é algo mais sofisticado. É quando frases soltas, fora de contexto, ironias, ou brincadeiras, são destacadas pela reportagem e apresentada como declaração efetiva. A partir daí o Verossímil-Facto é desdobrado em matérias e opiniões. Por exemplo: Fulano disse isso. O que você acha? E vem a única resposta possível : duramente crítica. Um político numa roda diz de forma solta que vai ser secretario geral da ONU. O repórter transforma em matéria e esta passa a ser “suitada” nos dias seguintes com opiniões dos leitores, com entrevistas e até com opinião do veiculo. A ironia é transformada em fato -seja qual for a intenção do veículo- e assim transformada em matéria. O político também usa este recurso, tirando uma frase de contexto e atribuindo a um adversário, procurando vender a matéria à imprensa e desdobrá-la. Isso independente de intenções ou de recebê-la de outro político.
6. Na correta compreensão dos termos, pode-se dizer que a proporção de factoides na imprensa é enorme e compulsória, independente, repita-se, da relevância dos fatos. A ausência de imagem atrativa ou de narrativa com imagem, reduz a audiência/leitura. É provável que a orientação seja buscar a coincidência entre relevância e imagem, coisa que ocorre com freqüência. Mas de qualquer forma prevalecerá a imagem mesmo sem relevância.
7. O Pseudo-Facto é uma exceção na chamada grande imprensa. É considerado delito -prevenido e punido com rigor. Mas não é raro, na imprensa em geral.
8. O Verossímil-Facto é cada vez mais comum nas reportagens. Uns explicam que a velocidade da informação obriga a sair na frente mesmo que sem uma avaliação aceitável do fato. Outros dizem que o uso do Verossímil Facto é crescente porque a lógica da audiência impõe uma pauta do tipo: -Vamos dizer isso amanhã,(jornal), ou hoje a noite,(TV). -Saia atrás de imagens e declarações que comprovem isso. Outros mais entendem que quando a imprensa tem um foco contra alguém ela orienta os repórteres para pegarem qualquer coisa, mesmo que expressões descontextualizadas. Os diretores de jornalismo devem estar cada vez mais atentos a esta deformação que tende a ser vista como Pseudo-Facto e nesse caso desmoraliza o veículo de imprensa.

1 pitacos:

Anônimo,  11:41  

Certa vez, há alguns anos, questionei um jornalista (que havia já mais alguns anos morara na mesma pensão que eu na Av. Brasil): "Por que Você publica uma versão sem ouvir o outro lado?" ao que ele respondeu: "Jornal é assim mesmo, meu caro. Se o outro lado aparecer, aí faço matéria sobre o outro lado. É para criar polêmica mesmo"

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