O significado das coisas
Por ROSANA HERMANN
Todo mundo que trabalha em comunicação sente o mesmo dilema: como entender a cabeça do público? Quem é a audiência? O que quer o povo? A mesma coisa acontece com o marketing político, quando essas mesmas pessoas passam de telespectadores para eleitores. O que elas pensam de verdade? Como escolhem o voto?
Mas há alguns indícios que nos levam à compreender algumas coisas básicas, as óbvias mesmo.
No caso da política, com 19 pontos de vantagem na frente de Alckmin, fica claro que coisas como a tentativa de compra do tal dossiê, seu conteúdo, a origem ilegal ou não do dinheiro da compra, caixa 2 de campanha,não significam absolutamente nada para a maioria dos eleitores, dos brasileiros adultos. Nada. Não há leitura, não há compreensão. E sobretudo, não importa. É como, digamos, a importância que tem para nós aqui no Brasil, o fato de uma ovelha ter escapado de um rebanho de um irlandês que vive da lã que produz. Ele pode não dormir à noite por causa da ovelha desgarrada mas não faz a menor diferença pra nós aqui. Nem pra contar carneirinhos.
Na televisão também há verdades que temos que conhecer e aceitar, se realmente quisermos trabalhar neste veículo. As coisas que fazem sucesso são as mais toscas, primitivas e simples. Não adianta querer sofisticar, não rola, não acontece. O povo não 'comenta'. E tudo o que a mídia quer, é isso, gerar comentários. As pessoas entendem e registram coisas com poucos bits de informação. Expressões como 'Débora sem Terra, 'Bandida do Funk', 'Tiazinha', 'Feiticeira', de compreensão instantânea. É o que faz sucesso. Qualquer coisa um pouco mais complicada, não funciona. E não adianta ficar revoltada. Você pode invocar Kuleshov, Eisenstein, Einstein e fazer um quadro de humor com conteúdo crítico. Tudo isso perderá de longe para a idéia primitiva e freudiana de enfiar um legume nas calças, que será um grande sucesso, exatamente como aconteceu com a incrível repercussão do escândalo 'dolar na cueca'. Sanguessuga não foi tão eficaz porque ninguém sabe direito o que é. Mas dólar e cueca são duas coisas simples. Não dá pra comparar cueca com dossiê. Cueca dá de dez. Dossiê não tem registro. Cueca tem.
Por força do trabalho acompanho vários tipos de piadas e textos de humor. E, sem preconceito, posso afirmar que dá pra perceber os regionalismos. Há certos tipos de piadas com zero de sofisticação que caem sempre no gosto popular. São piadas sobre cocô, tolete, dor de barriga, corno, traição, bunda murcha, peito caído, pau duro, coisas primitivas ligadas à reprodução e o sistema digestivo, por exemplo. As pessoas choram de rir. Os palavrões também tem este efeito. Filho da puta, então, parece ser a coisa mais engraçada do mundo. As putas deveriam ser humoristas. O que não deixa de ser perfeito para um país que não é mesmo sério.
3 pitacos:
Que comentário mais tosco.
Argumentos desconexos. Um monte de coisa junta, meio que sem sentido.
Rigon, o seu texto mostra uma certa sensilidade que leva a lugar algum. Não serve nem pra você mesmo, caso contrário não seria simpatizante do PT. Entender as contradições de um povo onde a desigualdade impera é como achar uma agulha num palheiro enorme. Do lado de cá, eu acredito que esta diferença entre lula e Alckmin se deve principalmente a:
1 - lula está no poder;
2 - lula dá esmolas em forma de bolsa-sei-lá-oquê;
3 - os menos informados acham que estão comendo mais arroz e feijão;
4 - agora, acredite se quiser, tem gente com plena certeza que lula realmente nunca soube dos roubos e corrupção da sua equipe de "desgoverno" ou quadrilha!
Texto muito bom e interessante. Diz claramente o que se passa na cabeça vazia de nosso povo.
De fato quase ninguém está preocupado com os rumos que o país pode tomar dependendo de quem for eleito.
O que impera é o imediatismo e não o amanhã. Assim, se hoje o cara consegue comer arroz e feijão, pra ele já tá bom.
Mas é porque nunca esperimentou filé mignon.
E sendo imediatista, nunca provará e tudo ficará sempre como hoje está, ou seja, governos corruptos se mantendo ou se sucedendo, povo se dando por satisfeito com migalhas bolorentas e só se lembrando do filha-da-puta do político quando ele, cidadão, chega no Posto de Saúde, ou no Posto do INSS e fica esperando algumas horas pra ser atendido, ou quando o parente agoniza sem atendimento adequado.
Assim que acaba de ser atendido ou que o parente morre ele se esquece de que foi desrespeitado em seus direitos mais básicos e volta a comer o seu medíocre arroz com feijão e vai fazer cagada nas urnas, repetindo-se o ciclo vicioso.
Putaqueopariu viu, mas é como diz aquela máxima: "cada povo tem o governo que merece"!
Postar um comentário
Vê lá o que vai escrever! Evite agressão e preconceito. Eu não vou mais colocar xizinho; na dúvida, não libero o comentário.