O lado sagrado do trabalho
Por MARIA NEWNUM
Era uma vez dois leões que fugiram do circo onde eram explorados por seus treinadores. O primeiro fugiu para a saudosa floresta. O segundo escondeu-se numa grande empresa. Em menos de um mês o primeiro retornou ao circo magro de dar pena; havia perdido a malícia da floresta. Ficou esperando que seu amigo retornasse; doce ilusão. O tempo passou...
Um ano depois, numa manhã chuvosa e fria foi surpreendido pelo amigo sendo atirado jaula adentro. De imediato quiseram saber as aventuras da fuga. O primeiro meio acanhado contou sobre sua volta vergonhosa e quis saber como o outro amigo havia sobrevivido por tanto tempo. Esse começou dizendo que ao contrário do amigo, sabia que as chances de sobreviver na floresta seriam mínimas, por isso resolveu esconder-se numa grande empresa. Quando sentia fome, comia um dos colaboradores. Tudo ia muito bem até que cometeu um terrível erro: comeu a mulher do cafezinho... Foi imediatamente pego.
Essa estorinha é apenas para despertar a parte criança dos homens e mulheres que sobrevivem nesse mundo maluco dos negócios. Mas no fundo chama a atenção para os valores do ambiente do trabalho em que comumente os indivíduos não sabem ao certo qual seu valor na empresa. Por vezes, muitos ficam com a impressão que são peças descartáveis.
Da mulher do cafezinho, aos ocupantes dos altos escalões, os colaboradores sofrem com a aparente inutilidade de seus préstimos; o que gera resultados negativos, incalculáveis, tanto para a vida pessoal quanto para a produção efetiva.
É visível a incompreensão, tanto por parte de colaboradores quanto de empresas, sobre o que vem a significar a dedicação exclusiva a uma atividade que consome parte da existência dos que estão apenas de breve passagem nesse mundo. E isso vale para diversas profissões e distintos ramos empresariais.
Tempo não é dinheiro, tempo é vida...
O tempo gasto com o trabalho é tempo que não retorna; seu valor é incalculável em qualquer moeda corrente. E some-se a isso o fato de que toda tarefa ou profissão produz um bem impossível de ser contabilizado e surgirá o que se pode chamar de valor espiritual do trabalho.
Do médico que salva vidas num hospital, à mulher do cafezinho que acolhe os colaboradores para o início do dia, passando por todos os setores da empresa; há pessoas de carne e osso que talvez jamais reflitam sobre o que representa esse desprendimento de suas vidas para a empresa e para a sociedade. É como se tudo fosse vão embaixo do sol; como diz um texto da Bíblia.
Contudo, o valor da contribuição dos colaboradores e dos diversos profissionais que se dedicam com seus “dons” à realização diária de tarefas exigidas pela profissão escolhida, é inimaginável. Pois, tempo é vida, o tempo não retorna, a vida também não...
É cada vez mais necessário que empresas e indivíduos possuam a noção de que há no trabalho um valor “sagrado” que não se mede em números ou no contracheque do fim de mês. Uma empresa “grande” reconhece isso, uma medíocre jamais... Um colaborador “grande” reconhece isso, um medíocre, jamais...
Por isso vale reafirmar: Não existe trabalho medíocre. A grandeza está na forma de sua realização...
Pode existir sim, uma pessoa medíocre desenvolvendo mediocremente um trabalho ou comandando mediocremente o trabalho de outros. Que não se confunda: A mediocridade de um pode, por vezes, encobrir grandezas, tanto dos indivíduos, quanto das tarefas que esses realizam. Nessas situações vale lembrar as sábias palavras do mestre Mário Quintana: “Aqueles que estão atravancando meu caminho passarão, eu passarinho”.
Para voar alto, empresas e colaboradores necessitam re-descobrir o conceito milenar: O trabalho é “sagrado” e a vida também. O grande mistério está em vivê-los com alegria, competência e grandeza.
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(*) Maria Newnum é pedagoga, mestre em teologia prática, vice-presidente do Movimento Ecumênico de Maringá e Conselheira no Conselho Municipal da Mulher de Maringá.
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