Revigorar os jornais
Por CARLOS ALBERTO DI FRANCO
Os jornais perdem leitores em todo o mundo. Multiplicam-se as tentativas de interpretação do fenômeno. Seminários, encontros e relatórios, no exterior e aqui, procuram, incessantemente, bodes expiatórios. Televisão e internet são, de longe, os principais vilões. Será? É evidente que a juventude de hoje lê muito menos. No entanto, como explicar o estrondoso sucesso editorial do épico O Senhor dos Anéis e das aventuras de Harry Potter? Os jovens não consomem jornais, mas não se privam da leitura de obras alentadas. O recado é muito claro: a juventude não se entusiasma com o produto que estamos oferecendo. O problema, portanto, está em nós, na nossa incapacidade de dialogar com o jovem real. Mas não é só a juventude que foge dos jornais. A chamada elite, classes A e B, também tem aumentado a fileira dos desencantados. Será inviável conquistar toda essa gente para o fascinante mundo da cultura impressa? Creio que não. O que falta, estou certo, é realismo e qualidade.
Os jornais, equivocadamente, pensam que são meio de comunicação de massa. E não são. Daí derivam erros fatais: a inútil imitação da televisão, a incapacidade para dialogar com a geração dos blogs e dos videogames e o alinhamento acrítico com os modismos politicamente corretos. Esqueceram que os diários de sucesso são aqueles que sabem que o seu público, independentemente da faixa etária, é constituído por uma elite numerosa, mas cada vez mais órfã de produtos de qualidade. Num momento de ênfase no didatismo e na prestação de serviços - estratégias úteis e necessárias -, defendo a urgente necessidade de complicar as pautas. O leitor que precisamos conquistar não quer o que pode conseguir na TV ou na internet. Ele quer qualidade informativa: o texto elegante, a matéria aprofundada, a análise que o ajude, efetivamente, a tomar decisões.
Um amigo gozador costuma dizer-me que a expressão "jornalismo de qualidade" é, hoje em dia, contraditória em si mesma. Outro dia, quis exemplificar-me essa sua opinião. "Veja", dizia, "boa parte do noticiário de política não tem informação. Está dominado pela fofoca e pelo espetáculo. Não tem o menor interesse para os leitores." A cobertura eleitoral, por exemplo, não trata de discutir políticas públicas, mas fica refém do marketing dos candidatos. E o leitor, por óbvio, passa batido. Não encontra reflexão, análise, interpretação, profundidade.
O uso de grampos como material jornalístico, por outro lado, virou ferramenta de trabalho. A velha e boa reportagem foi sendo substituída por dossiês. De uns tempos para cá, o leitor passou a receber dossiês que, muitas vezes, não se sustentam em pé. Curiosamente, quem os publica não se sente obrigado a dar nenhuma satisfação ao leitor. Entramos na era do jornalismo sem jornalistas, nos tempos da reportagem sem repórteres. Ficamos, todos, fechados no ambiente rarefeito das redações. Enquanto esperamos o próximo dossiê, tratamos de reproduzir declarações entre aspas, de repercutir frases vazias de políticos experientes na arte de manipular a imprensa. O jornalismo está virando show business. Espartilhados pelo mundo do espetáculo, repórteres estão sendo empurrados para o incômodo papel de peça descartável na linha de montagem da ciranda do entretenimento. É óbvio, caro leitor, que esse tipo de jornalismo não é capaz de atrair um público qualificado.
De algum tempo para cá, setores da imprensa manifestam preocupante ambigüidade ética. O que é sensacionalismo barato numa publicação popular é informação de comportamento nas respeitáveis páginas de alguns veículos da chamada grande imprensa. Biografias não-autorizadas (ou difamação politicamente correta) e síndrome do boato compõem um retrato de corpo inteiro da indigência editorial. Nem mortos ilustres escapam ao esquartejamento moral. Best sellers de ocasião, apoiados no marketing da leviandade e sustentados pela repercussão da mídia, ganham status de seriedade. Nem Abraham Lincoln, transformado no mais ilustre gay da América, escapou à fúria da historiografia do escândalo. O que interessa não é a informação. O que importa é chocar. Ao tentarem disputar espaço com o mundo do entretenimento, alguns setores da imprensa estão entrando num perigoso processo de autofagia. Esquecem que a frivolidade não é a melhor companheira para a viagem da qualidade. Pode até atrair num primeiro momento, mas depois, não duvidemos, termina sofrendo arranhões irreparáveis no seu prestígio.
O leitor que confia na integridade dos jornais é o mesmo que em inúmeras pesquisas qualitativas nos envia alguns recados: quer, por exemplo, menos frivolidade e mais profundidade. Tradicionalmente fortes no tratamento da informação, alguns diários têm sucumbido às regras ditadas pelo mundo do espetáculo. Ao atribuírem à televisão a responsabilidade pela perda de leitores, partiram, num erro estratégico, para um perigoso empenho de imitação. A força da imagem, indiscutível e evidente, gerou um perverso complexo de inferioridade em algumas redações. Perdemos a capacidade de sonhar e a coragem de investir em pautas criativas. É hora de proceder às oportunas retificações de rumo. Há espaço, e muito, para o jornalismo de qualidade. Basta cuidar do conteúdo.
Só uma séria retomada na qualidade informativa garantirá a fidelidade dos antigos leitores e a conquista de novos. Precisamos mostrar, com fatos e com obras, que os jornais continuam sendo úteis, importantes, um guia insubstituível para a navegação na vida real.
Os jornais, equivocadamente, pensam que são meio de comunicação de massa. E não são. Daí derivam erros fatais: a inútil imitação da televisão, a incapacidade para dialogar com a geração dos blogs e dos videogames e o alinhamento acrítico com os modismos politicamente corretos. Esqueceram que os diários de sucesso são aqueles que sabem que o seu público, independentemente da faixa etária, é constituído por uma elite numerosa, mas cada vez mais órfã de produtos de qualidade. Num momento de ênfase no didatismo e na prestação de serviços - estratégias úteis e necessárias -, defendo a urgente necessidade de complicar as pautas. O leitor que precisamos conquistar não quer o que pode conseguir na TV ou na internet. Ele quer qualidade informativa: o texto elegante, a matéria aprofundada, a análise que o ajude, efetivamente, a tomar decisões.
Um amigo gozador costuma dizer-me que a expressão "jornalismo de qualidade" é, hoje em dia, contraditória em si mesma. Outro dia, quis exemplificar-me essa sua opinião. "Veja", dizia, "boa parte do noticiário de política não tem informação. Está dominado pela fofoca e pelo espetáculo. Não tem o menor interesse para os leitores." A cobertura eleitoral, por exemplo, não trata de discutir políticas públicas, mas fica refém do marketing dos candidatos. E o leitor, por óbvio, passa batido. Não encontra reflexão, análise, interpretação, profundidade.
O uso de grampos como material jornalístico, por outro lado, virou ferramenta de trabalho. A velha e boa reportagem foi sendo substituída por dossiês. De uns tempos para cá, o leitor passou a receber dossiês que, muitas vezes, não se sustentam em pé. Curiosamente, quem os publica não se sente obrigado a dar nenhuma satisfação ao leitor. Entramos na era do jornalismo sem jornalistas, nos tempos da reportagem sem repórteres. Ficamos, todos, fechados no ambiente rarefeito das redações. Enquanto esperamos o próximo dossiê, tratamos de reproduzir declarações entre aspas, de repercutir frases vazias de políticos experientes na arte de manipular a imprensa. O jornalismo está virando show business. Espartilhados pelo mundo do espetáculo, repórteres estão sendo empurrados para o incômodo papel de peça descartável na linha de montagem da ciranda do entretenimento. É óbvio, caro leitor, que esse tipo de jornalismo não é capaz de atrair um público qualificado.
De algum tempo para cá, setores da imprensa manifestam preocupante ambigüidade ética. O que é sensacionalismo barato numa publicação popular é informação de comportamento nas respeitáveis páginas de alguns veículos da chamada grande imprensa. Biografias não-autorizadas (ou difamação politicamente correta) e síndrome do boato compõem um retrato de corpo inteiro da indigência editorial. Nem mortos ilustres escapam ao esquartejamento moral. Best sellers de ocasião, apoiados no marketing da leviandade e sustentados pela repercussão da mídia, ganham status de seriedade. Nem Abraham Lincoln, transformado no mais ilustre gay da América, escapou à fúria da historiografia do escândalo. O que interessa não é a informação. O que importa é chocar. Ao tentarem disputar espaço com o mundo do entretenimento, alguns setores da imprensa estão entrando num perigoso processo de autofagia. Esquecem que a frivolidade não é a melhor companheira para a viagem da qualidade. Pode até atrair num primeiro momento, mas depois, não duvidemos, termina sofrendo arranhões irreparáveis no seu prestígio.
O leitor que confia na integridade dos jornais é o mesmo que em inúmeras pesquisas qualitativas nos envia alguns recados: quer, por exemplo, menos frivolidade e mais profundidade. Tradicionalmente fortes no tratamento da informação, alguns diários têm sucumbido às regras ditadas pelo mundo do espetáculo. Ao atribuírem à televisão a responsabilidade pela perda de leitores, partiram, num erro estratégico, para um perigoso empenho de imitação. A força da imagem, indiscutível e evidente, gerou um perverso complexo de inferioridade em algumas redações. Perdemos a capacidade de sonhar e a coragem de investir em pautas criativas. É hora de proceder às oportunas retificações de rumo. Há espaço, e muito, para o jornalismo de qualidade. Basta cuidar do conteúdo.
Só uma séria retomada na qualidade informativa garantirá a fidelidade dos antigos leitores e a conquista de novos. Precisamos mostrar, com fatos e com obras, que os jornais continuam sendo úteis, importantes, um guia insubstituível para a navegação na vida real.
(Publicado em O Estado de S. Paulo)
4 pitacos:
O nobre amigo deveria: 1) Recortar o comentário e; 2) Entregar ao seu editor (Estadão).
no blog: http://edu.guim.blog.uol.com.br/
O Eduardo fez uma pesquisa que se intitula "Folha pesquisada" e o manchetismo anti-lula muito interessante, eu estendo a mesma conclusão ao Estadão que vai a reboque.
Só para resumir o que ele afirma é que, de todos os dias de julho, nas manchetes da folha, quase todas, sem exceção, eram com intúito de atingir Lula ou o PT.
Com o que aconteceu aqui em Maringá, com o o diário e as eleições que levaram a vencer o SBII, tem gente que ainda quer comprar jornal?
Tem que ser muito IMBECIL querer assinar e pagar por mês para receber manchetes direcionadas a lavagem cerebral. Duro é saber que ainda tem gente que acredita nisso.
Miguel
Todos sabemos que os jornais são de empresários. Empresários têm pátria e interesses de classe. Vende-se menos jornais por uma série de circunstãncias, todas as que o auotr indica, mas há outras. Creio que, a medida que a escolarização aumenta os leitores procuram mais fontes para saber das notícias. Nas classes menos escolarizadas, o $ é pouco para comprar jornal, aí serve as chulices da TV aberta, cujos interesses são pagos: jornal nacional, Pinga fogo,etc etc O debate deveria ir para as mídias alternativas.
Concordo com Vc Miguel!
A imprensa direcionada não atende as expectativas de quem tem o hábito de ler! Chega ser irritante a campanha e manchetismo anti-Lula! Com tudo isso conseguiram uma façanha, hoje toda minha família votará no Lula. pois a leitura que se faz é que há todo um complô, toda uma organização para tirar os petistas do caminho!!! Como o Brasil mudou! O sonho dourado do "Poder" não está tão fácil como até 04 anos atrás. Hoje a transparência e a liberdade de ação da Polícia Federal está mostrando nada mais do quê, o quê sempre aconteceu nos bastidores sujos da nosso meio político. Portanto não há nenhum fenômeno ou explosão de corrupção, há sim mais investigação, exposição e informação, que antes era cerceada.
Belo texto, apesar de ter sido publicado num jornalão de ultra-direita.
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Vê lá o que vai escrever! Evite agressão e preconceito. Eu não vou mais colocar xizinho; na dúvida, não libero o comentário.