Eles entram atirando: Violência policial e inversão de papéis
Por MARIA NEWNUM
Em documento intitulado Brasil: Eles entram atirando policiamento em comunidades socialmente excluídas, a Anistia internacional traz uma amostra dos acontecimentos nas cidades de Rio de Janeiro e São Paulo. Mas os indicadores servem para ilustrar o que se repete nas demais cidades do Brasil em que sabe na América Latina.
Primeiro, o documento aponta que “a maioria das vítimas da violência policial é constituída de jovens pobres, negros ou mestiços; muitos dos quais não possuem antecedentes penais. Dos 17.900 jovens que foram assassinados no ano 2002, 11.308 eram negros e 6.592 brancos”. Ou seja, a condição social e a cor da pele foi fator determinante para a execução nesses Estados, algo há muito tempo já denunciado por entidades ligadas aos direitos humanos em diversas partes do Brasil.
Segundo, de acordo com o documento, “em maio de 2005 uma pesquisa realizada pela Universidade Federal Fluminense demonstrou que 30% da população aceitava a idéia de que “bandido bom é bandido morto”. Em abril de 2005, Marcelo Itagiba, Secretário de Estado da Segurança Pública do Rio de Janeiro, declarou que “se a polícia fosse mais ativa mataria mais bandidos”. Novamente uma idéia comumente defendida por um número considerável de pessoas e autoridades policiais: Que a execução é a solução mais eficaz no combate a criminalidade. Daí o número crescente de esquadrões da morte financiados por comerciantes desejosos em promover faxinas humanas nos arredores de seus estabelecimentos.
Especialmente nos períodos das festas de finais de ano essa faxina tende a ser intensificada, travestida em forma de batidas policiais nos centros comerciais do país. Pois , pobres, mendigos e meninos de rua, enfeiam as cidades e afastam a clientela endinheirada.
O que se vê, portanto, é a perigosa ausência da compreensão da criminalidade como conseqüência dos problemas sociais e a transferência de responsabilidade do Estado para a polícia. Mas o caminho deveria ser outro: A união solidária entre pessoas, entidades, associações comerciais e governos, na busca de uma justiça que se distancie das soluções violentas e desumanas.
Ao mesmo tempo é preciso que a polícia encontre suporte da sociedade para enfrentar o Estado que tenta jogar em suas mãos os problemas sociais transformando-os em casos de polícia.
Não é papel da polícia tirar desempregados, pedintes, dependentes químicos e menores infratores das ruas. Isso é papel dos governos municipais, estaduais e federais com o desenvolvimento de políticas públicas eficientes e com o uso correto do meu, do seu, do nosso o dinheiro derramado religiosamente nos cofres públicos a nosso contragosto.
Quando se fala do suporte da sociedade para polícia se desvencilhar de um papel que não lhe pertence, fala-se do envolvimento dos cidadãos, entidades sociais e religiosas atuando ativamente na gestão dos recursos públicos através dos conselhos municipais e demais organismos fiscalizadores da administração pública.
Apenas com o apoio da população é que a polícia encontrará respaldo para fugir desse labirinto que a fizeram reféns do Estado e de uma imensa parcela da sociedade desprovida da consciência dessa vergonhosa inversão de papéis.
Na música Polícia do grupo Titãs há uma interessante avaliação: “Dizem que ela existe pra ajudar. Dizem que ela existe pra proteger... Polícia pára quem precisa? Polícia pára quem precisa de polícia?”.
A resposta é não. A polícia está involuntariamente cumprindo um papel que não lhe pertence ao promover faxinas humanas dos que foram abandonados a própria sorte pelo poder público. Enquanto os que verdadeiramente precisam ser parados pela polícia: Os corruptos, “bandidos de colarinho branco”; ficam a solta.
A polícia deve parar quem precisa, quem precisa de polícia...
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Maria Newnum é pedagoga, mestre em teologia prática, vice-presidente do Movimento Ecumênico de Maringá e Conselheira no Conselho Municipal da Mulher de Maringá. Para comentar ou ler outros artigos clique aqui.
3 pitacos:
Pois é: os policiais são tão violentos quanto os ladrões. De Chico Buarque: chame os ladrões!
Não leram o texto até o fim ou não entenderam. Então Maria, onde falha o estado, que entre o ciclo da borracha (dos cacetetes) da PM. É mais fácil tirar o pessoal do lixão com a polícia do que lhes dar trabalho com dignidade. É isso aí.
é por estes pensamento que estamos no caos que estamos, o dia que um ladrão aprontar, sem dó nem piedade com algum ente querido, estes cidadaõs defensores de vagabundos, talvez mudem de idéia.
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Vê lá o que vai escrever! Evite agressão e preconceito. Eu não vou mais colocar xizinho; na dúvida, não libero o comentário.