O encontro de Daniel Dantas com Thomaz Bastos
Na revista Veja desta semana, que traz o marginal Marcola na capa:
"Em reportagem publicada na semana passada, VEJA informou ter recebido do banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, por meio de um ex-espião da agência de investigações Kroll, documentos com supostas contas, em paraísos fiscais, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de ministros e ex-ministros de seu governo, do senador Romeu Tuma e do diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda.
O simples fato de um cidadão com o histórico policial de Daniel Dantas deter uma lista com supostos segredos financeiros da cúpula do governo deveria causar uma reação enérgica do Estado contra o banqueiro. Estranhamente, Lula e seus principais ministros decidiram poupá-lo. Em vez de apurarem o conteúdo da mensagem, insurgiram-se contra o mensageiro.
Lula fez a VEJA o mais destemperado ataque verbal já desferido por um presidente contra um órgão de imprensa desde a redemocratização. Enquanto isso, e não por coincidência, Dantas admitia conhecer os documentos, mas negava, em entrevistas que deveriam ingressar no anedotário da ingenuidade jornalística, tê-los encomendado à Kroll e os entregado a VEJA.
Não foi uma boa estratégia. Dantas ofereceu o material pessoalmente à revista e o entregou por intermédio de Frank Holder, ex-diretor da Kroll. A operação envolveu vários emissários de Dantas, o próprio banqueiro e deixou registros e gravações suficientes para ocupar várias edições de VEJA.
Os repórteres da revista empenharam-se em acompanhar os desdobramentos da crise causada pela primeira reportagem. Descobriram fatos igualmente graves. Ao mesmo tempo que VEJA era atacada pelo governo e por colunistas e editorialistas crédulos, loucos para acreditar em tudo que favoreça o governo, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, reunia-se secretamente com Dantas.
O encontro ocorreu em Brasília, na noite de quarta-feira 17. VEJA apurou que Dantas e Bastos celebraram uma trégua. O governo não colocaria a Polícia Federal na cola do banqueiro desde que Dantas e seu investigador fechassem a boca – e que o banqueiro segurasse seus sócios e cúmplices, caso eles viessem a ser convocados a depor na CPI dos Bingos. Quando sair a versão oficial do encontro, ela com toda a certeza será candidamente reproduzida sem contestação pelos crédulos, ingênuos e aqueles com interesses financeiros em agradar ao governo.
O encontro entre Dantas e o ministro da Justiça é escandaloso. Dantas acusa o ministro Bastos de ter contas não declaradas no exterior. Se essa acusação é falsa, como sustenta o ministro, Bastos deveria esforçar-se para prender o banqueiro, e não se sentar à mesa com ele para tratar de negócios. Não é a primeira vez que o ministro é flagrado na casa errada.
Há dois meses, VEJA revelou sua participação em reunião na qual o ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda) tentou apagar as provas da quebra do sigilo do caseiro Francenildo Costa. Ele não perdeu o cargo naquela ocasião pela lassidão moral da política brasileira. É possível que a mesma lassidão o garanta no cargo novamente. O curioso é que, na noite de quarta-feira, enquanto Bastos se encontrava com o banqueiro investigado pela Polícia Federal, a própria Polícia Federal, de quem Bastos é superior hierárquico, deixava vazar que convocaria um editor executivo de VEJA e o colunista Diogo Mainardi para depor em Brasília. Ou seja, enquanto mandava a PF incomodar os mensageiros, o ministro negociava com o autor da mensagem.
VEJA também foi a campo entender melhor por que Bastos e outros ministros tratam Dantas com temor. Obteve nos Estados Unidos um documento precioso cujo original está em poder da Justiça americana: uma ata, escrita pela Kroll, resumindo uma conferência telefônica realizada em 10 de fevereiro de 2005 entre diretores da Kroll e o banqueiro e sua turma. Nela, Dantas faz revelações. Diz que o então ministro José Dirceu (Casa Civil) e o governo do PT como um todo comprometeram-se a defender os interesses do Opportunity.
Para isso haveria uma condição: que eles não fossem investigados pela Kroll. Dantas descreve setores da Polícia Federal como corruptíveis e mercenários. Curiosidade: também participou da conferência telefônica o espião Holder, a quem Dantas agora alega mal conhecer".
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