Seria melhor se fosse mentira
O desabafo é de Paulo Campagnolo e está em O Diário de hoje:
Quem se comoveu ou ficou chocado, quem sentiu raiva ou vislumbrou uma possibilidade de afeto, quem riu ou por muito tempo sentiu-se engasgado tamanha a força, tamanha a secura e a tristeza de certas imagens que alguns filmes exibidos pelo Projeto Um Outro olhar ao longo de 5 anos, ainda deve estar se perguntando porque o Projeto acabou nos cinemas do Cinesystem. Ou, ainda, quando é que o Projeto vai voltar ao cinema. Essas são perguntas que também sempre me são feitas, pelas ruas ou em eventos, quando amigos e conhecidos se encontram.
Como nunca sei, ao certo, o que responder, escolho palavras animadoras - na verdade, para que talvez eu mesmo me convença de que elas podem revelar um fundo (que seja um fundo, apenas) de verdade.
Porém, a verdade, para contrariar este que é o dia da mentira, é que o Projeto acabou mesmo (no Cinesystem) por falta de público. Por falta de um público que “sustentasse” (e essa palavra adquire aqui, tenham certeza, um profundo sentido moral) a exibição dos filmes. Exibição, na maioria das vezes, que se restringia a um único horário, todas as noites, durante uma, duas e, excepcionalmente, três semanas no máximo. Claro que houve momentos surpreendentes como o que aconteceu com o filme “Nossa Música”, de Jean-Luc Godard. O filme ficou em cartaz durante esplêndidas quatro semanas em Maringá quando, em algumas capitais brasileiras, mal se sustentou duas semanas. Contudo, esse tempo não foi porque o filme “se deu bem” na bilheteria. Foi muito mais por insistência minha e do programador do Cinesystem, Carlos Maurício Sabbag que, ainda, vez ou outra, precisava fazer uma “média” com algumas distribuidoras para, depois, conseguir determinados filmes que eu tanto ansiava.
Filmes que eu julgava serem importantes e que se “ajustavam” dentro das premissas traçadas pelo Projeto ao longo do tempo. Premissas, objetivos e “ideais” que favoreciam trabalhos surpreendentes, grandes clássicos e o mais interessante cinema contemporâneo, premiado e polêmico - sempre na tentativa (e não posso esconder que não houve alguma frustração nisso, em alguns casos) de vislumbrar um pouco de originalidade, de emoção pura, de um humanismo deslavado, de alguma luz para nossas vidas medíocres. Bem, talvez só a minha vida fosse medíocre. Talvez ainda seja. Ainda mais agora.
A verdade é que durante 5 anos o Cinesystem empenhou-se em possibilitar, sem qualquer restrição, a vinda de filmes excepcionais porque sentia como um dever favorecer espectadores que não se contentavam (que não se conformavam em se contentar) apenas com diversão “barata”. Espectadores que não paravam em frente ao painel do Projeto, no Aspen, e perguntavam às bilheteiras se “aquele filme era pra pensar” (ai, saudades das meninas da bilheteria!). Espectadores que, 15 minutos depois de começado o filme do Godard, não saiam, rindo nervosamente, desculpando-se com os amigos dizendo “não sabia que era tão ridículo esse filme, perdoem-me”.
Espectadores, ainda, que, aos berros, saíram da sessão de “O Círculo”, de Jafar Panahi, dizendo-se violentados em seus direitos: “como é possível esse cinema exibir um filme desses?” E tantos outras histórias cretinas que só revelam...bem, todos sabem o que histórias como essas revelam.
Não! Os espectadores do Projeto Um Outro Olhar já sabiam o que os aguardava na sala escura. Porque, como bem disse a Hilda Hilst em “O Unicórnio”, “olha que o corpo é de luta e não de perfumaria”. Mas eram poucos os que se aventuravam nessa batalha. Para uma cidade com uma universidade como a UEM e tantas faculdades (com cursos tão interessantes como jornalismo, comunicação, marketing, ciências sociais e todos os outros ditos “superiores”), um público decididamente pequeno demais. Mas corajoso, é bem certo. Donas de casa, psicólogos, alguns estudantes, poucos professores, um carteiro que vinha de uma outra cidade, médicos, advogados, militares reformados, artistas, poucos atores (surpreendentemente), funcionários públicos, etc e etc. Um pequeno público, diversificado como os próprios filmes. E que, no entanto, ajudaram a construir uma sensação de profundo merecimento, de estar fazendo a coisa certa. Um pequeno público que ainda hoje freqüenta as sessões mensais do Projeto na Sociedade Médica de Maringá. Mas, sem dúvida, merecia mais e só não tem por causa dos outros.
Definitivamente, “o inferno são os outros”.
P.S.2: Para voltar a acontecer nos cinemas do Cinesystem, o Projeto precisa de patrocinador. Nada de extraordinário, devo dizer. E com vantagens, evidentemente. Entre em contato pelo e-mail paulocampagnolo@hotmail.com. Por favor!!!
P.S.3: Esse texto não pretendeu ser um choro. É apenas um cansaço. E sei que muitos que lidam com coisas semelhantes me entendem.
1 pitacos:
Rapaz, o que você quer dizer com uma cidade com uma universidade e tantas faculdades?
Você já viu o povo que está na UEM e nessas faculdades hoje?
Não é mais como antigamente. Na enorme maioria é um bando de gente que veio prá cvá para gastar um pouco do dinheiro que os pais tem com sexo e bebidas. N/ao que eu não goste de sexo e bebidas, bem explicado. Mas agora, as universidades não são mais aquele espaço de formação política e cultural que eram. Os tempos mudaram, e acho que não foi para melhor.
Como diz aquela propaganda de uma grande "universidade" de Maringá:
"Preparando para o mercado de trabalho e para o sucesso pessoal."
É o fim da rosca!
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Vê lá o que vai escrever! Evite agressão e preconceito. Eu não vou mais colocar xizinho; na dúvida, não libero o comentário.