28.4.06

As boazinhas vão para o céu e as outras?

Por MARIA NEWNUM

Tenho curiosidade em conhecer o livro Meninas boazinhas vão para o céu e as más vão à luta, de Ute Ehrhardt. É um livro que tenho tanta ansiedade para ler que não o compro, quero esperar um momento especial para poder curtir cada linha.
As boazinhas vão para o céu é um conceito que distingue as mulheres, mantendo-as segregadas e fazendo com que umas exerçam supremacia sobre as outras. Na verdade são formas de repressão e controle que foram aos poucos fomentados de forma muito especial no contexto das religiões cristãs.
Desde meninas, as mulheres cristãs são ensinadas que se forem boazinhas irão para o céu. O céu que são desafiadas a alcançar é um céu idealizado pelos homens religiosos que as educaram e domesticaram suas consciências. A domesticação vem sobre as formas de um viver segundo o padrão que os homens religiosos e a igreja julgam apropriados às mulheres. O molde central dessa domesticação é a submissão e a resignação ante aos desejos pessoais; desde aos ligados a sexualidade, ou seja, o próprio corpo da mulher; incluindo aí o seu prazer sexual, até o desejo de sair de uma condição de segunda classe que a sociedade e a igreja impuseram a elas.
Um dos textos bíblicos usados para domesticação religiosa da mulher é: “A mulher sábia edifica sua casa, a tola destrói”. Mas que casa é essa? Quem edificou essa casa sem varandas e janelas? E por que a mulher tem que zelar por ela? Qual é o papel do homem nessa casa?
Em outras palavras diz-se: “Se a casa cair é culpa da mulher”. A mulher não sábia, burra mesmo.
Há a até um livrinho famoso: A mulher segundo o coração de Deus, uma cartilha prática, que visa colocar abaixo dos escalões superiores dos homens de Deus, a mulher. A mulher boazinha; aquela segundo o coração do próprio altíssimo; que desafio tem essas mulheres... O engraçado é que o livrinho “O homem segundo o coração de Deus” não saiu. Certamente porque se compreende que eles já o são. Que peso pra eles também, não?
O mais preocupante, contudo, é o esforço das boazinhas. Elas se esmeram tanto para agradar a Deus e a “seus homens” que não conseguem enxergar um palmo adiante do nariz, ficam “atoladinhas”. E aí das outras; as más. Elas que não se metam com as boazinhas. Que não se sentem com as pernas abertas perto das boazinhas. As boazinhas estão sempre com os joelhos juntinhos, comprimindo e escondendo o sinal de nascença do “pecado”. A sensualidade, a beleza, o charme é abominável para as boazinhas. Uma mulher “segundo o coração de Deus” dever ser quase assexuada, o sexo só é aceitável para se cumprir com os deveres maritais.
No livro Teólogos da libertação falam sobre a mulher, há um diálogo interessante na página 82 entre a teóloga e pastora metodista Elza Tamez e o teólogo Rubem Alves.
- Elza: “Como você vê na igreja protestante atual a situação da mulher?”
– Rubem: “Muito feia”.
– Elza: “A mulher ou a igreja?”
– Rubem: “As duas. Parece-me feia a situação da igreja, e da mulher. Porque é uma coisa terrível, no caso das igrejas protestantes, especialmente das igrejas reformadas, a forma como a mulher [...] foi levada a perder a sensualidade no sentido mais amplo, em virtude de uma ideologia religiosa. De modo que o que se vê com muita freqüência nas igrejas protestantes é uma mulher muito empobrecida como mulher. [...] Nossa ideologia religiosa é [...] repressora do sexo, e a mulher não tem licença para ser mulher. [...] Na Igreja, quem é a mulher? É a mulher que faz o almoço quando há visitas. A mulher esta sempre ali, ajudando em alguma coisa. Mas está ausente. Então não vejo que haja um lugar bonito; a não ser que se creia que isso é um lugar bonito. Porque às vezes há pessoas que julgam isso bonito”.
Sim, a quem julgue tudo isso muito bonito. Certos homens acham bonito, muitas igrejas acham bonito. As boazinhas acham bonito. As outras não. Mas se as boazinhas vão para o céu, para onde irão as outras?
Ora, elas irão à luta. Elas devem ir à luta sempre.
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Maria Newnum é pedagoga, mestre em teologia prática, vice-presidente do Movimento Ecumênico de Maringá e Conselheira no Conselho Municipal da Mulher de Maringá.
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1 pitacos:

Anônimo,  13:48  

Gostaria de fazer uma pergunta a prof de Teologia, para onde ela gostaria de ir?

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