29.3.06

Palocci virou o McBeth de Ribeirão

De Thomas Traumann:

O ex-ministro Antonio Palocci passou os últimos dias tentando se passar por Henrique II, o rei da Inglaterra do final do século XIII que conseguiu do papa a nomeação de um ex-auxiliar como bispo de Canterbury. Esperava assim dominar todas as ações da Igreja. Só que uma vez no cargo, o amigo, Thomas à Becket, passou a agir com independência. Furioso, o rei desabafou numa roda de nobres: “estou cercado de covardes. Quem vai me livrar desse padreco?!”. Um mês depois, Becket foi decapitado e Henrique II entrou para a história como o responsável pelo crime, embora pudesse jurar nunca ter ordenado o assassinato.
Palocci se segurava na promessa de que ele também nunca ordenara a quebra do sigilo do caseiro Francenildo, mas sim assessores seus, leais a sua angústia. Era culpado, no máximo, de ter amigos que ultrapassam os limites da lei.
Bonito, mas mentiroso. Palocci se comportou muito mais como o McBeth de Shakespeare, um homem simples que, seduzido pelos presságios das três bruxas e da ambição desmedida da sua mulher, acaba levando a Esc´[ocia à guerra civil. Na peça, McBeth justifica a carnificina pela disputa pela coroa. No caso de Palocci, pela sua manutenção no poder. Atenção: o poder dele Palocci, não o do presidente Lula. Como ministro sereno de um governo à beira de um ataque de nervos, Palocci se acostumou a ser interlocutor de grandes empresários, banqueiros e líderes de oposição. Era o “pau do circo” na avaliação do deputado Delfim Netto, a garantia de que Lula não faria desatinos da área econômica, o “encantador de serpentes” na voz de George Soros, enfim, era um político desconhecido que se tonara poderoso, muito poderoso. E Palocci gostava do poder. Palocci não caiu porque assessores seus quebraram o sigilo do bancário do caseiro. Nem porque amigos seus de Ribeirão Preto usaram as suas relações para tentar fazer negócios. Caiu porque tinha sede de poder.

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