14.3.06

O ideário da política

Por ELISEU AUTH

Está dando pano prá manga essa tal da verticalização. A Geometria faz puxar da memória que existem linhas horizontais, oblíquas, perpendiculares e verticais. A vertical mede a linha do prumo, em relação ao horizonte. Daí vem aprumar. É linha reta que parte do lugar mais alto, que é o vértice e vai até a base. Até o chão. Mas, que tem a ver isso com a verticalização que mereceu a Emenda Constitucional de número 48?
Na ciência política, entre os institutos mais importantes estão os partidos políticos. São “partidos” porque significam partes da sociedade que têm um mesma visão social, política e econômica. Uma mesma ideologia. Têm o mesmo projeto e o mesmo programa, ao qual os partidários deveriam ser fiéis e mostrar coerência. Os candidatos, também deveriam debater, defender e executar essas idéias e programas, sob pena de trair os eleitores que votam no que pregam. Cada partido tem então, uma determinada visão da sociedade e apontam caminhos que conduzam à tão sonhada felicidade dos cidadãos.
De cima abaixo, do vértice ao chão, se há coligações partidárias em torno dos mesmos candidatos e de um mesmo programa, que sejam do mesmo feitio. Do Oiapoque ao Chuí... É isto que significa a verticalização. Se na esfera superior, isto é, no vértice, o partido “A” se coliga com o partido“Z”, esta coligação não pode ser contrariada nas planícies. Nos Estados e Municípios. Cada partido pode ter candidato próprio, mas se fizer coligação, não poderá fazê-la fora do formato do vértice.
Grande parte dos políticos deste país, não está filiada em partido por causa da ideologia. Está aí por interesse e por conveniência. Eis a razão de tanta arruaça e bravata contra a verticalização. Aqui, prestem atenção nas próximas eleições, prefeitos do PMDB apoiarão deputado do PSDB e vice-versa. O mesmo acontece com PDT, PP e outras siglas. É tudo gente sem coerência partidária. Estão ali para se elegerem, mas mandam às favas programa e ideologia. Na maior parte das vezes, sequer conhecem o programa. Quanto à ideologia, nem sabem o que é isso. São movidos por interesses próprios. O povo? Bem, este que se lixe.
Lembro do tempo em que disputei eleições. Acreditava em um mínimo de coerência partidária. De Maringá a Guaíra, não havia outro candidato a deputado estadual pelo PMDB. E em todos os municípios o partido tinha e tem diretórios municipais. Contudo, regra geral, os “pemedebistas” engajavam-se nas campanhas de outros partidos, comandados pelos interesses dos grupos dominantes. Estes, por sua vez, seguiam os caciques. Um bando de filiados, nunca de partidários. O triste é que nada mudou. Essa falta de consciência do que é um partido é que precisa mudar. É necessário que os dirigentes partidários, sejam eles quem forem, não se reunam apenas para escolher os candidatos. Que formem consciência em torno de idéias e de programas, tendo a ética por base e não os interesses eleitoreiros. Quando as pessoas começarem a pensar mais, analisarão candidatos e começarão a fazer as mudanças que urgem. Só desta forma haverá um mínimo de coerência, inclusive nos próprios políticos.
A verticalização vai cair por conta da Emenda. Talvez não caia nesta eleição. Pena, porque ela exige coerência e fortalece as idéias dos partidos. Mais que interesses e conveniências, programa e ideologia devem compor o ideário da política.

(*) Eliseu Auth é promotor de Justiça inativo, atualmente advogado militante

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