Aos leitores
Editorial da Gazeta do Povo de hoje:
Espalhados pela cidade, outdoors pagos pelo PMDB – e evidentemente inspirados pelo governador Roberto Requião – afirmam injuriosamente que a “Gazeta do Povo mente”. Eles fazem parte da infeliz campanha movida por S. Exa. desde que este jornal, utilizando-se exclusivamente de dados divulgados pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), órgão do governo do Estado, referiu-se em manchete ao alto índice de poluição das praias do Paraná, causado pela precariedade dos serviços de saneamento básico no litoral do estado.
A ira de S. Exa. contra tal revelação tornou-se pública na semana passada, durante a reunião que promove às terças-feiras com seu secretariado, a chamada “escolinha”. E foi reafirmada ontem, em novo encontro. Embora risíveis, já que não resistem a quaisquer exames minimamente sensatos, os ataques de Requião ecoados pelos outdoors do PMDB merecem o registro de nossa repulsa. Repulsa, aliás, que tem sido manifestada também por tantos quantos devotam respeito ao papel da imprensa livre – contrariamente à truculência com que, de maneira tão recorrente, se comporta o governador.
A reação do governador não chegou a surpreender. Não foi a primeira nem será a última vez que aqueles que pensam de maneira diversa de S. Exa. são alvejados pela retórica desabrida das ofensas, juízos extremados, opiniões apaixonadas e qualificativos de baixo nível. Nem pessoas, nem veículos de comunicação, nem membros do Judiciário têm sido poupados quando, de alguma maneira, trazem à luz do conhecimento público fatos que S. Exa. preferiria ver relegados a um esquecimento conveniente; ou quando “ousam” expressar opinião diversa daquela que Sua Excelência, freqüentemente baseado em um conhecimento superficial e incompleto dos fatos, decide endossar com ares de “magister dixit”. Portanto, ao se ver alvo do destempero, da agressão gratuita, do descontrole verbal de Roberto Requião, a Gazeta do Povo não tem o direito de ficar surpreendida. Tem o direito, sim, e o dever de reafirmar sua linha editorial firme e clara. Nosso único compromisso é com a sociedade.
Cabe perguntar: quem, exatamente, vem ganhando com essa agressividade incontida do governador contra todos que não rezam pela sua cartilha nem aceitam o papel de áulicos e meros repetidores de suas diatribes? A população? É duvidoso, mesmo porque S. Exa. parece se esmerar em adotar posições que a Justiça tem derrubado sistematicamente, lembrando-lhe, em muitos casos, que, em uma sociedade regida pelo Direito, o tom de voz de um dos litigantes ou o seu nível de agressividade não são levados em conta quando se trata de dirimir as questões judiciais.
É triste e evidente ao mesmo tempo que, para alguns, é difícil aceitar que outros exerçam o direito e a obrigação de informar objetiva e corretamente e de discordar. Por isso, é sintomático que o governador prefira agredir a Gazeta do Povo, procurando intimidá-la de maneira autoritária ao invés de valer-se dos instrumentos que o Estado de Direito lhe consagraria, como o direito de resposta, caso o jornal tivesse faltado à verdade.
Uma palavra final em respeito aos nossos milhares de leitores. A Gazeta do Povo não pretende mais tratar desse infeliz episódio dos outdoors, mas fará uso dos instrumentos legais na instância judicial para enquadrar aqueles que a injuriam. Nosso jornal já completou 87 anos e ao longo dessa longa jornada teve oportunidade de observar dezenas de governadores e de governos. Já viu desfilarem pela vida pública paranaense muitos governantes operosos e outros menos; governantes probos e outros que não deixaram saudades; administradores com visão estratégica e governantes obcecados pelo próprio umbigo. Ter de conviver com um governador temperamental e truculento não chega a ser um fardo insuportável, é apenas bizarro. No futuro, quando se escrever a história de nossa época, algumas das atitudes que hoje chocam pela sua agressividade inócua, destrutiva e gratuita talvez não mereçam sequer menção. Terão sido apenas um acidente de percurso, uma perturbação menor a afetar o espírito daqueles que – como a Gazeta do Povo, seus dirigentes e seus profissionais – amam realmente este estado e respeitam a inteligência de sua população.
Governos são transitórios. Não são transitórios, porém, os sólidos princípios que norteiam a Gazeta do Povo, de absoluto respeito ao pluralismo democrático, à ética e à imparcialidade frente às correntes políticas e aos governos. Assim permaneceremos.
Gazeta do Povo
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Vê lá o que vai escrever! Evite agressão e preconceito. Eu não vou mais colocar xizinho; na dúvida, não libero o comentário.