"O que se espera é que o prefeito fale menos e faça mais"
Na principal reportagem de sua edição deste domingo ("Imobilismo marca primeiro ano de Silvio"), O Diário diz que avaliação dos doze meses iniciais da gestão do prefeito revela que o Executivo enfrenta dificuldades para transformar o discurso em ações práticas. Ilustrada por uma foto do centro esportivo do Conjunto Herman Morais de Barros, a matéria, assinada por Edivaldo Magro com box de Murilo Gatti, diz:
"O prefeito fala muito e faz pouco." A frase, disparada pelo vereador Valter Viana, líder "informal" da oposição na Câmara, como ele faz questão de sublinhar, é emblemática da apatia que se instalou no primeiro ano do governo municipal. De fato, uma das virtudes de Silvio Barros é exatamente a capacidade de se expressar, de projetar com palavras ações e medidas que apontam para um futuro promissor para a cidade. Mas é na facilidade do discurso que o prefeito tem se enredado, em função do descompasso entre a teoria e a prática.
A contabilidade dos primeiros 12 meses de governo exibe resultados bem distantes das promessas de campanha. Mesmo que se subtraiam dessa conta os obstáculos deixados pela gestão anterior, como dívidas e outros passivos, é notório que o governo municipal ainda tateia no escuro em busca de uma marca administrativa. Silvio Barros tem insistido que a saúde será a referência de seu mandato, mas é exatamente nessa área que os problemas se avolumam e a pasta está sob o comando do terceiro secretário.
As demandas mais urgentes do setor, como exames e consultas especializadas, não foram atendidas, assim como o funcionamento 24 horas do "postão" de saúde da Zona Norte, no Jardim Alvorada. As mazelas da área, que prosperaram em consecutivos governos, atingiram no final do ano passado seu estado mais crítico com os problemas em torno do Programa Saúde Família (PSF). O "mico" ensaia se transformar num imbróglio jurídico de desfecho imprevisível, para desespero do cidadão que depende do serviço público de saúde.
Para um governo que assumiu convencido de que os dramas da saúde estavam associados tão somente a problemas de gestão, como costumava bradar o ex-secretário da pasta, Heine Macieira, a falta de ações resolutivas na área reforça a convicção de que essa gestão ainda não começou. Se assim não fosse, seria mais fácil apontar avanços em setores prioritários, das quais a saúde é apenas um deles. Mas é lícito destacar os trabalhos de recuperação da malha asfáltica e a campanha pela redução de acidentes no trânsito.
No primeiro caso vale reconhecer a herança de governos anteriores que pouco ou nada fizeram para preservar a qualidade do asfalto, deixando que o desgaste natural desenhasse um cenário lunar nas ruas e avenidas da cidade. O trabalho de reperfilagem e operações tapa-buracos, em que pese seu caráter paliativo, devolveu ao roteiro urbano condições mais adequadas de tráfego - e um pouco mais de tranqüilidade aos motoristas.
Ações para um trânsito mais pacífico reduziram o número de acidentes, mas a manutenção de estatísticas menos trágicas depende da continuidade da campanha que, é necessário reconhecer, não chegou aos bairros como prometido ? ficou restrita ao centro da cidade, mas nem por isso deixou de alcançar seu objetivo mais imediato: conscientizar motoristas sobre a importância de respeitar a sinalização e o pedestre para evitar acidentes.
Mas no amplo espaço em que se move o governo municipal era de se esperar um conjunto de ações que contemplasse um leque mais extenso das demandas urbanas, o que não ocorreu na medida da expectativa do cidadão. O próprio Silvio Barros já se confessou frustrado com o desempenho apático de seu governo em algumas áreas, exatamente naquelas em que é depositário da confiança de seus eleitores, que acreditaram num discurso repleto de firulas e promessas, como convém a um candidato em campanha.
Silvio Barros traz no DNA a vocação política. Contudo, a condição de filho e irmão de ex-prefeitos da cidade não significa que deles tenha herdado e assimilado o talento e a capacidade de administrar. Eleito pela coligação "Gente de Maringá", que reunia PP, PDT, PRTB e PSDB, Silvio Barros foi eleito com 53,51% dos votos válidos (92.052 votos), apenas sete pontos percentuais acima do segundo colocado, o petista João Ivo Caleffi.
Tido como um forasteiro na cidade, ainda que aqui tenha nascido e estudado (é formado em Engenharia Civil pela UEM), e órfão de um grupo político capaz de lhe dar sustentação, Silvio reforçou essa impressão ao cercar-se de servidores de confiança ligados a seu irmão, o ex-prefeito e deputado federal Ricardo Barros. Sua participação na campanha foi decisiva para a vitória de Sílvio. Mas o inquieto parlamentar continua a ser guru do introspectivo irmão, cujo comportamento reservado e insondável o torna pouco permeável, como sustentam aliados e oposição.
A influência de Ricardo Barros sobre a gestão do irmão se confirmou com a reforma administrativa, que atualizou modelo de organização usado pelo ex-prefeito. O desenho de gestão também alçou aos cargos mais expressivos nomes ligados ao deputado e que ocuparam secretarias em sua gestão, reforçando a tese de que Silvio depende dessa sustentação para governar. Mas vale a atenuante de que Sílvio pertence ao grupo político do irmão e, portanto, é lícito que ele se aproprie da estrutura criada pelo parlamentar.
Mas o desenho administrativo adotado por Silvio, numa estratégia política mais uma vez lenta e inconclusiva, já que a reforma ainda não se consolidou ? ou pelo menos não está funcionando, em mais um exemplo de apatia do governo - , parece atender a um apelo do irmão, que teria confidenciado a amigos e inimigos sua preocupação com os rumos da gestão, que poderia influenciar os eleitores em sua tentativa de obter mais um mandato de deputado federal.
O parlamentar, não sem razão, teme que os desacertos da administração do irmão tenham reflexos em seus eleitores, que por razões mais que óbvias os associam nas questões domésticas. Além disso, como sabidamente Ricardo tem dado seus pitacos na gestão de Silvio, é natural que os erros de um sejam imputados também ao outro ? e isso não pega nada bem para imagem do deputado que vai tentar reeleger-se para seu quarto mandato.
Seja como for, a análise do primeiro ano da gestão revela um governo bem intencionado, mas que contabiliza não apenas falhas estratégicas ao não dar respostas efetivas às demandas mais urgentes, mas também erros táticos que provocam enorme desgaste político, como a proibição de fumantes no concurso do PSF e o vulgar erro no código de barras dos carnês do IPTU, para ficar apenas em dois exemplos mais notórios de erros primários.
Apesar do balanço negativo, é de se supor que este ano a administração se reencontre e, irrigada por recursos captados no âmbito estadual e federal, seja capaz de desfazer a impressão de que o governo não começou. Não resta dúvida de que currículo e virtudes não faltam a Silvio Barros e sua equipe, mas entre o discurso e a prática vai uma distância geralmente grande - e o que se espera é que o prefeito fale menos e faça mais.
Leia mais aqui (para assinantes)
A contabilidade dos primeiros 12 meses de governo exibe resultados bem distantes das promessas de campanha. Mesmo que se subtraiam dessa conta os obstáculos deixados pela gestão anterior, como dívidas e outros passivos, é notório que o governo municipal ainda tateia no escuro em busca de uma marca administrativa. Silvio Barros tem insistido que a saúde será a referência de seu mandato, mas é exatamente nessa área que os problemas se avolumam e a pasta está sob o comando do terceiro secretário.
As demandas mais urgentes do setor, como exames e consultas especializadas, não foram atendidas, assim como o funcionamento 24 horas do "postão" de saúde da Zona Norte, no Jardim Alvorada. As mazelas da área, que prosperaram em consecutivos governos, atingiram no final do ano passado seu estado mais crítico com os problemas em torno do Programa Saúde Família (PSF). O "mico" ensaia se transformar num imbróglio jurídico de desfecho imprevisível, para desespero do cidadão que depende do serviço público de saúde.
Para um governo que assumiu convencido de que os dramas da saúde estavam associados tão somente a problemas de gestão, como costumava bradar o ex-secretário da pasta, Heine Macieira, a falta de ações resolutivas na área reforça a convicção de que essa gestão ainda não começou. Se assim não fosse, seria mais fácil apontar avanços em setores prioritários, das quais a saúde é apenas um deles. Mas é lícito destacar os trabalhos de recuperação da malha asfáltica e a campanha pela redução de acidentes no trânsito.
No primeiro caso vale reconhecer a herança de governos anteriores que pouco ou nada fizeram para preservar a qualidade do asfalto, deixando que o desgaste natural desenhasse um cenário lunar nas ruas e avenidas da cidade. O trabalho de reperfilagem e operações tapa-buracos, em que pese seu caráter paliativo, devolveu ao roteiro urbano condições mais adequadas de tráfego - e um pouco mais de tranqüilidade aos motoristas.
Ações para um trânsito mais pacífico reduziram o número de acidentes, mas a manutenção de estatísticas menos trágicas depende da continuidade da campanha que, é necessário reconhecer, não chegou aos bairros como prometido ? ficou restrita ao centro da cidade, mas nem por isso deixou de alcançar seu objetivo mais imediato: conscientizar motoristas sobre a importância de respeitar a sinalização e o pedestre para evitar acidentes.
Mas no amplo espaço em que se move o governo municipal era de se esperar um conjunto de ações que contemplasse um leque mais extenso das demandas urbanas, o que não ocorreu na medida da expectativa do cidadão. O próprio Silvio Barros já se confessou frustrado com o desempenho apático de seu governo em algumas áreas, exatamente naquelas em que é depositário da confiança de seus eleitores, que acreditaram num discurso repleto de firulas e promessas, como convém a um candidato em campanha.
Silvio Barros traz no DNA a vocação política. Contudo, a condição de filho e irmão de ex-prefeitos da cidade não significa que deles tenha herdado e assimilado o talento e a capacidade de administrar. Eleito pela coligação "Gente de Maringá", que reunia PP, PDT, PRTB e PSDB, Silvio Barros foi eleito com 53,51% dos votos válidos (92.052 votos), apenas sete pontos percentuais acima do segundo colocado, o petista João Ivo Caleffi.
Tido como um forasteiro na cidade, ainda que aqui tenha nascido e estudado (é formado em Engenharia Civil pela UEM), e órfão de um grupo político capaz de lhe dar sustentação, Silvio reforçou essa impressão ao cercar-se de servidores de confiança ligados a seu irmão, o ex-prefeito e deputado federal Ricardo Barros. Sua participação na campanha foi decisiva para a vitória de Sílvio. Mas o inquieto parlamentar continua a ser guru do introspectivo irmão, cujo comportamento reservado e insondável o torna pouco permeável, como sustentam aliados e oposição.
A influência de Ricardo Barros sobre a gestão do irmão se confirmou com a reforma administrativa, que atualizou modelo de organização usado pelo ex-prefeito. O desenho de gestão também alçou aos cargos mais expressivos nomes ligados ao deputado e que ocuparam secretarias em sua gestão, reforçando a tese de que Silvio depende dessa sustentação para governar. Mas vale a atenuante de que Sílvio pertence ao grupo político do irmão e, portanto, é lícito que ele se aproprie da estrutura criada pelo parlamentar.
Mas o desenho administrativo adotado por Silvio, numa estratégia política mais uma vez lenta e inconclusiva, já que a reforma ainda não se consolidou ? ou pelo menos não está funcionando, em mais um exemplo de apatia do governo - , parece atender a um apelo do irmão, que teria confidenciado a amigos e inimigos sua preocupação com os rumos da gestão, que poderia influenciar os eleitores em sua tentativa de obter mais um mandato de deputado federal.
O parlamentar, não sem razão, teme que os desacertos da administração do irmão tenham reflexos em seus eleitores, que por razões mais que óbvias os associam nas questões domésticas. Além disso, como sabidamente Ricardo tem dado seus pitacos na gestão de Silvio, é natural que os erros de um sejam imputados também ao outro ? e isso não pega nada bem para imagem do deputado que vai tentar reeleger-se para seu quarto mandato.
Seja como for, a análise do primeiro ano da gestão revela um governo bem intencionado, mas que contabiliza não apenas falhas estratégicas ao não dar respostas efetivas às demandas mais urgentes, mas também erros táticos que provocam enorme desgaste político, como a proibição de fumantes no concurso do PSF e o vulgar erro no código de barras dos carnês do IPTU, para ficar apenas em dois exemplos mais notórios de erros primários.
Apesar do balanço negativo, é de se supor que este ano a administração se reencontre e, irrigada por recursos captados no âmbito estadual e federal, seja capaz de desfazer a impressão de que o governo não começou. Não resta dúvida de que currículo e virtudes não faltam a Silvio Barros e sua equipe, mas entre o discurso e a prática vai uma distância geralmente grande - e o que se espera é que o prefeito fale menos e faça mais.
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1 pitacos:
A linha deste jornal sempre foi em defesa da familia Barros, portanto devo acreditar que se trata de uma estratégia, sabemos que os Barros deputados estão em baixa, mas daqui a pouco este jornal partirá em defesa da oligarquia, assim como aquele apresentador de TV.
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Vê lá o que vai escrever! Evite agressão e preconceito. Eu não vou mais colocar xizinho; na dúvida, não libero o comentário.