11.7.05

Um novo Waldomiro Diniz?

O Jornal de Brasília dedicou amplo espaço em sua edição de domingo com reportagem de Jorge Eduardo Antunes intitulada "Um Novo Waldomiro Diniz?". Fala sobre Roberto Bertholdo, ex-conselheiro de Itaipu Binacional, e muito ligado a dois deputados federais. Confira a matéria:

A posse de Silas Rondeau Cavalcante Silva no Ministério das Minas e Energia pode ter aberto uma bem remunerada vaga no Conselho de Administração de Itaipu Binacional, que já teve donos polêmicos. O primeiro foi o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que cedeu seu lugar ao advogado paranaense Roberto Bertholdo. Este, um homem no mínimo polêmico, encarado por muitos como uma bomba-relógio que pode estourar no Palácio do Planalto e na política paranaense.

Para começar, pela própria trajetória de Bertholdo. Casado com a filha do ex-deputado paranaense Erwin Bonkoski, um dos líderes do Centrão na era Sarney, seu nome veio a público nos anos 90, logo depois de perder a eleição para deputado estadual no Paraná pelo extinto PRN, quando tornou-se lobista da Construtora Tibagi.

Era, então, o melhor amigo do comandante Jorge Bandeira, piloto e sócio de PC Farias, falecido tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Teria conseguido, à época, por suas ramificações no governo, travar no Conselho de Contribuintes da Receita Federal cinco processos nos quais a Tibagi era multada em quase US$ 1 milhão, por sonegação de impostos.

Mesmo depois da queda de Collor, o lobby de Bertholdo ainda funcionava. Em fevereiro de 1995, os processos contra a empresa dormiam na gaveta da conselheira Marian Seif, presidente do Conselho, indicada por Cláudio Vieira, ex-secretário de Fernando Collor. Mas em agosto daquele ano, o então secretário da Receita, Everardo Maciel, demitiu Marian e fez uma faxina no Conselho.

Advogando - Bertholdo, então, saiu da Tibagi. Mas não da vida pública. Tornou-se, com o termpo, advogado de pesos-pesados da política paranaense, entre eles os deputados federais José Janene, líder do PP, e José Borba, ex-líder do PMDB. Pelos bons serviços prestados, acabou sendo indicado por Borba, no começo de 2003, para o cobiçado cargo de conselheiro de Itaipu Binacional.

Borba, aliás, utilizou por vários anos os serviços de Bertholdo. Primeiro, como advogado especializado na área tributária. Depois, como um assessor parlamentar. Bertholdo, muito simpático, encantava a assessoria da Comissão de Orçamento e Finanças, de acordo com comentários de quem trabalhava lá. Promovia ainda, segundo algumas testemunhas, festas animadas numa casa alugada no Lago Sul. Mais recentemente, comenta-se, Bertholdo teria redigido a polêmica e dura nota de despedida de Borba da liderança do PMDB, na qual ele acusou o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza de lotear cargos no governo federal.

Avalista - Mas a ida de alguém tão próximo do esquema Collor para a respeitável Itaipu dos primeiros meses do governo Lula teria de ter um padrinho mais engajado. Suspeita-se que seria o advogado Daniel Godoy, ex-assessor do governo do Paraná. Filiado ao PT, Godoy seria o homem que o aproximou da cúpula petista, principalmente do ex-ministro José Dirceu, apontado como o avalista final da ida de Roberto Bertholdo para o ambicionado Conselho de Administração da Itaipu Binacional, cargo com salário de R$ 14 mil e obrigação de comparecer a uma única reunião mensal.

A indicação, feita em agosto de 2003, foi um soco na boca do estômago do presidente de Itaipu Binacional, o petista Jorge Samek. Afinal, Bertholdo era filiado ao PP e disputara, em 2002, uma vaga como senador no Paraná como suplente de Tony Garcia, seu cliente e ex-deputado estadual acusado de gestão fraudulenta, sonegação fiscal, evasão de divisas, subfaturamento em importações e clonagem de veículos na administração do Consórcio Garibaldi. Seu currículo e seu modo de agir nunca agradaram, segundo se comenta no Paraná, o educado e polido presidente de Itaipu Binacional.

Samek teve de esperar quase dois anos para ver Bertholdo deixar o assento no Conselho de Administração. Antes disso, porém, teria assistido ao advogado sugerir a ampliação do escopo de atuação da geradora de energia, incluindo a ação social no Brasil como mais um pilar da empresa. Também viu Bertholdo pedir a lista de fornecedores que tinham dinheiro a receber de Itaipu, procedimento considerado estranho por um conselheiro, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães. Samek negou o pleito.

Outros procedimentos nada ortodoxos viriam em pouco tempo. Em janeiro deste ano, Bertholdo foi acusado de agredir, manter em cárcere privado e extorquir R$ 900 mil do ex-sócio Sérgio Renato Costa Filho. Por ordem do então ministro José Dirceu, acabou desligado (ou pedindo demissão) em 22 de fevereiro deste ano, após um encontro com o diretor-geral brasileiro, Jorge Samek.

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