A mão de Deus
De Donizete Oliveira:
Ouvia falar em sala de espera, mas imaginava que fosse uma sala daquelas em que a gente aguarda consulta com um médico. Mas não era bem isso. A sala de espera em que fiquei era num hospital, sim, mas do lado de um centro cirúrgico. Lá dentro estava minha irmã que fazia uma cirurgia do coração. Eu ali aguardando o médico que viria trazer a notícia após cinco longas horas.
Não estava sozinho. Uma moça aguardava ansiosa pela cirurgia da mãe. Os médicos extraiam um tumor do cérebro dela. Outra esperava notícias do marido que sofria intervenção para implantar quatro pontes de safena. O que nos restava naquele espaço exíguo era trocar informações. O problema do outro parece que nos alivia. Uma garrafa de café e um galão de água ajudavam a afastar a ansiedade. Cada um contava seu drama e lá no íntimo havia a reflexão de que o problema alheio poderia ser pior. Coração, cérebro, ponte de safena. Bem, pensava eu, minha irmã tem apenas que tapar dois buraquinhos no coração que mandam muito sangue para os pulmões. É só costurar. Não deve ser nada.
A moça, cuja mãe era operada para extrair um tumor do cérebro, dizia que a doença não era maligna. Uma cirurgia já havia sido feita, mas os médicos de outro hospital haviam retirado apenas parte do tumor. Agora, iriam extirpar tudo.
Para a mulher, cujo marido recebia quatro pontes de safena, iria dar tudo certo porque ele era muito forte e não morreria de véspera. Era a que mais falava. Fez longo histórico da doença do marido e se dizia calejada em socorrer pessoas com problemas do coração, pois a mãe passara pelo mesmo mal.
Eu estava com um livro na mão, mas não conseguia abri-lo. Pensava no que dissera o médico. A cirurgia da minha irmã tinha apenas 5% de risco. É muito baixo, mas existe risco. Ainda mais se tratando de coração. Desde menino ouço falar que esse órgão é intocável. Abria o livro, mas não conseguir me fixar nas palavras.
De repente, chega um jovem ansioso. A mulher acabara de entrar na sala de parto. O primeiro filho, quanta expectativa! Será que a criança sai dali (da sala de parto) e vai direto para o berçário, pergunta ele. Ninguém sabia responder. Até que uma enfermeira informou que iria, sim, mas demoraria um pouco.
O jovem não se aquietava. Andava de um lado para outro e dava de cara com a parede. Pelo menos, nos trouxe certo alento. Mexeu com o ambiente. Nossa ansiedade era muda; a dele, não. Contagiava-nos. Mas as horas não corriam. Os ponteiros do meu relógio não passavam das 11. Queria que chegasse meio-dia, hora prevista para terminar a cirurgia.
Comecei a pensar no percurso que minha irmã fizera até chegar à cirurgia. Havia dado tudo certo. Era como se a mão de Deus estivesse ali. Não sigo nenhuma religião, mas Deus é inegável. Sobretudo quando nos mostra o atalho.
Deus pode fazer milagres instantâneos, mas entendo que hoje não é necessário. A ciência - que é criação divina - evoluiu. Deus, então, nos encaminha para o hospital mais adequado, onde está o médico certo para resolver nosso problema.
Em meio a esse pensamento levantei da cadeira num sobressalto. O médico vinha dizer que correra tudo bem na cirurgia da minha irmã. Hoje, ela já está curada. Graças à mão de Deus e dos médicos.
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(*) Donizete Oliveira, jornalista e professor em Maringá
3 pitacos:
rigon veja como DEUS é maravilhoso este moço não tem religião mas DEUS faz milagre para que ele repense sua religiosidade.
porque nao deixou somente nas maos de deus???????????
quanta hipocrisia..............
e os que morrem o que voce tem a dizer???
Não é necessário ter uma religião para crer em Deus. O salmista diz : " Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras de Suas mãos" . Salmo 19:1
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Vê lá o que vai escrever! Evite agressão e preconceito. Eu não vou mais colocar xizinho; na dúvida, não libero o comentário.