Fé acima de qualquer discurso

De Antonio Carlos Moretti:

Por mais tragédias que um jornalista presencie, alguns fatos marcam. Nunca consegui esquecer os dias de angústia que o pastor Macedo e dona Agripina passaram no início de 90 (o ano não me recordo agora se não remexer o monte de jornais antigos que guardo), quando um de seus filhos foi preso nos Estados Unidos. O rapaz voltava do trabalho e a polícia o prendeu próximo ao condomínio onde morava porque o retrato falado do assassino de um garoto se parecia com o brasileiro. Para felicidade dos pais, o caso foi esclarecido e, inocentado, o filho voltou para o Brasil. Durante o período que durou o drama do pastor Macedo e dona Agripina, todos os dias, a partir das 16h, horário que eles recebiam as notícias dos EUA, um grupo de jornalistas se formava no portão da família em busca de novidades. Dona Agripina preparava uma mesa de café e o pastor Macedo, sempre calmo, convidava o grupo para entrar e comer, até que o contato dos EUA ligasse. Dona Agripina mantinha-se sempre serena, mas não conseguia disfarçar a dor que uma mãe sente em momentos como esses.
Depois disso vi o pastor Macedo duas vezes. Uma em sua igreja, na formatura de uma sobrinha, e outra na TV, quando apoiou Requião. E falei com ele apenas uma vez, por telefone, quando um membro de sua igreja foi acusado de envolvimento com drogas. Há alguns meses, a caminho duma clínica, passei próximo à sua casa e contei o drama do casal a minha irmã, que estava comigo.
Nunca ouvi os sermões do pastor Macedo, mas naqueles dias de dor, vi que tinha uma fé que estava acima de qualquer discurso.