Adoniran e o samba da mulher atropelada poucos dias antes do casamento

Um atropelamento anônimo de uma mulher na rua da Consolação, numa São Paulo que crescia vertiginosamente e Adoniran transformou a tragédia em samba. Surge “Iracema” atravessada no chão por ter entrado na avenida São João na contramão. A moça casaria dentro de vinte dias e deixou para o noivo apenas um par de meias e outro de sapatos.

Ivana Veraldo

Iracema (1956) - Adoniran Barbosa

Iracema, eu nunca mais eu te vi.
Iracema, meu grande amor, foi embora...
Chorei, eu chorei de dor porque
Iracema, meu grande amô foi você.
Iracema, eu sempre dizia
cuidado ao atravessar essas rua...
Eu falava, mas você não me escuitava não
Iracema você travessô contramão.
E hoje ela vive lá no céu,
e ela vive bem juntinho de Nosso Sinhô...
De lembrança guardo somente suas meias
e seus sapatos...
Iracema, eu perdi o seu retrato...
(Declamando) Iracema, fartava (7) vinte dias pro nosso casamento, que nóis ia se casá... Você travessô a rua São João, veio um carro te pega e te pincha no chão... Você foi pra assistença. O chofé não teve curpa, Iracema, paciença... paciença...