26.3.09

Tim, tim

De Luis Fernando Veríssimo:

Não se veem mais patacas e dobrões, a não ser em filme de pirata. Moedas de encher algibeiras e baús e pesar no bolso. Moedas sonantes e ressonantes. Uma vez fui investigar a origem da expressão “tim-tim por tim-tim” e não encontrei nenhuma raiz grega ou tupi-guarani. “Tim” era apenas a reprodução onomatopéica do barulho que fazia uma moeda batendo na outra. O som de metal contra metal. Pagar alguém era colocar moedas na sua mão, e o ruído de um metal sobre o outro - tim, tim, tim, tim - era o registro de uma transação bem saldada, de algo trocado pelo seu valor em ouro ou prata, com todos os tins devidos. As moedas não representavam outra coisa, as moedas eram o dinheiro, soavam como dinheiro. Depois veio o papel-moeda, que tecnicamente não é dinheiro, é uma vaga promessa de algum dia se transformar em ouro ou prata, e começamos nosso afastamento do tim-tim. Culminando com as vastas somas virtuais que hoje cruzam os céus de computador para computador, em silêncio. Ganhamos o dinheiro asséptico, intocado por mãos humanas, mas perdemos a onomatopéia.

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