Você sabe com...
De Plácido Fernandes, no Correio Braziliense de ontem:
Está no artigo 5º da Constituição: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...)”. É uma pena que, na prática, não seja bem assim. E o pior: muitas vezes, o mau exemplo vem justamente daqueles que deveriam zelar pelo respeito às leis.
Nem falo aqui da farra que magistrados, deputados e senadores promovem quando legislam em causa própria, aumentando de forma exorbitante os próprios salários. Mas de um mal mais corriqueiro e, por incrível que pareça, até tolerado em alguns estamentos sociais: o abuso de autoridade. Existe coisa mais atrasada e patética do que a intragável “você sabe com quem está falando?”
Apesar do ridículo, esse comportamento arcaico ainda prospera no país. Principalmente em Brasília, onde a vanguarda do atraso costuma lançar mão do artifício para estacionar o carro em local proibido (e ameaçar o guarda de trânsito se ele se opuser), furar fila, garantir mesa (sem ter feito reserva) em restaurante lotado, entrar no cinema sem pagar, tentar intimidar as pessoas nas ruas.
O mais grave é quando a prepotência faz adeptos. E o que vemos? Parentes da “autoridade” empinam o nariz, adotam o comportamento indecente e saem por aí se achando acima da lei e dos demais mortais. A sociedade, de modo geral, deveria repudiar, denunciar o abuso — e não tolerar esse tipo de atitude.
Deve-se, é verdade, reconhecer que o espírito de corpo entre essa gente costuma ser altíssimo. Nas ruas, um guarda que não se curva ao abuso e dá voz de prisão corre mais risco de ser punido pela Justiça do que o agressor. É estarrecedor, mas é real. Infelizmente, a inversão de valores existe. E aqui, ao contrário das novelas, é muito raro o vilão se dar mal.
1 pitacos:
Apenas um detalhe: magistrado não faz lei. Quem legisla (em causa própria ou não) é o poder legislativo, não o judiciário.
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Vê lá o que vai escrever! Evite agressão e preconceito. Eu não vou mais colocar xizinho; na dúvida, não libero o comentário.