A lógica dos jornais populares prevalece
Do ex-blog de Cesar Maia:
01. Os jornais populares certamente não são novidade no Brasil. Especialmente no Rio, ex-capital do Brasil. Em 1937 o jornal A Notícia já começava a fazer sucesso com os escândalos e violência na capa. Tanto sucesso que Ademar de Barros o comprou nos anos 40. Em 1955 Ademar ganhou a eleição para presidente no Rio-DF. Tenório Cavalcanti, com seu jornal Luta Democrática, acentuando as marcas de sangue na capa, passou a ser o deputado mais votado do antigo Estado do Rio e quando se candidatou em 1960 a governador da Guanabara obteve espantosos 20% dos votos, ganhando de Lacerda - UDN - e Sergio Magalhães - PTB - nas favelas e áreas mais pobres. Chagas Freitas “herdou” o sistema de Ademar quando este foi para a Bolívia em função de um mandado de prisão. Mudou o título principal e fundou uma máquina eleitoral poderosa no Rio.
02. Passou ao folclore do jornalismo a escolha das manchetes daqueles jornais de forma a marcar o sensacionalismo e a dupla interpretação. Mas os jornais populares anteciparam a TV no sentido de que se vendem na banca e tem que renovar a audiência todos os dias. Por isso a importância da capa, das fotos e das manchetes.
03. Mas não é só isso. Antecipou as notas curtas e matérias comprimidas. Chagas Freitas ao receber um estagiário, filho de um deputado, pediu que ficasse de pé e lesse o jornal. O estagiário abriu o jornal e iniciou o leitura. Chagas pediu que colocasse um dos braços para o alto como se estivesse segurando-se num trem e continuasse a ler. O estagiário dobrou o jornal. Em seguida Chagas pediu que ele se balançasse como se estivesse num trem. A resultante foi dobrar o jornal numa oitava, de forma a segurá-lo na mão e ler. Chagas concluiu: - Se o que você escrever passar disso, ninguém vai ler.
04. A TV só veio a reforçar a importância da imagem, dos textos curtos e do sensacionalismo. E mais ainda: trouxe a violência para o horário nobre. Nos anos 50 os jornais de leitura da classe média jogavam para páginas bem interiores o noticiário policial e só traziam para a primeira página os fatos de grande repercussão, quase como novela e sempre que envolvesse a alta classe média.
05. O fato é que a TV - com sua linguagem de imagens e seus textos mínimos e fatiados - impôs a lógica da imprensa popular a todos. Surgem as colunas - pequenas notas para serem lidas como se fossem matérias. As fotos passam a ser mais importantes que as matérias. As manchetes devem ser “seriamente escandalosas”. O esporte ganhou status e dispensou os jornais especializados. Anos atrás um senador sênior respondia a um diretor de jornal: - Podem escrever o que quiserem de mim. Mas por favor, ponham uma foto boa!
06. O crescimento avassalador dos jornais gratuitos, especialmente vendidos em metrô e trem, dizem tudo quanto ao método. Vinte Minutos é um sucesso na França. É o tempo médio de deslocamento e deve ser preparado - formato e forma das matérias - para uma leitura rápida. O USA Today fez escola anos atrás e construiu a ponte entre os jornais populares tradicionais e a adaptação dos jornais de classe média.
07. Hoje os jornais populares no Brasil caminham a passos largos para serem grátis ou quase grátis ou percebidos como tais. Super Notícias em Minas Gerais, disparado o de maior circulação lá, tem preço de capa de 25 centavos.
08. Curiosamente no Rio os jornais tipicamente populares tem uma circulação de mais de duas vezes a dos de S. Paulo, apesar da população metropolitana ser muito menor do que de SP. E esse mercado abalou os jornais tradicionais de classe média, que hoje são desenhados e editados com a mesma lógica dos jornais populares - todos - com caráter cada vez mais local, com exponenciação de imagens do cotidiano, com qualquer violência na capa... Claro, tudo “seriamente escandaloso”.
09. Em Minas esse processo é explícito. Os tablóides do Sul chegaram ao mesmo porto. No nordeste este Ex-Blog sem leitura diária, não deve opinar... ainda. Em SP os dois grandes jornais resistem à lógica dos populares. Ainda. O Estadão mais que a Folha. A baixa venda em bancas e a quase totalidade por assinaturas ajuda. A pressão -digamos de mercado- é grande.
10. Com um baixo índice de leitores de jornais, a lógica dos jornais populares é irresistível. Mesmo no caso dos jornais de assinantes, pois seus leitores demandam na lógica da TV e querem respostas - e formas - semelhantes para renovarem a assinatura. Não cabe valorar esse processo. Seria como pensar a TV de outra maneira, o que é impossível hoje. O esperado é que em breve - com maquiagem ou vestuário distintos- todos os jornais no Brasil sejam “populares”. Em outros países, com base de leitores mais ampla, sobra espaço para os jornais de classe média, de opinião e informação priorizada.
11. Por sorte há uma diferença em relação ao passado: - os jornais populares - talvez pela presença da mesma linguagem na TV - não são mais máquinas eleitorais.
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Vê lá o que vai escrever! Evite agressão e preconceito. Eu não vou mais colocar xizinho; na dúvida, não libero o comentário.