4.12.06

Para se pensar e debater

O Ex-Blog de César Maia volta e, como aquecimento, reproduz trechos de três artigos publicados em novembro:

1. Do professor Ulrich Beck da Universidade de Munich. Um lúcido - e raro - pensador de esquerda no mundo de hoje. Diz ele:
a) Quanto mais as relações de trabalho sejam desregularizadas e flexibilizadas, mais rapidamente a sociedade será transformada de uma sociedade do trabalho em uma sociedade do risco, na qual nem o modo de vida para as pessoas, nem as medidas para o Estado e a política, serão previsíveis.
b) A margem de manobra do Estado é reduzida ao dilema entre financiar um menor nível de pobreza, em troca de um alto nível de desemprego, ( como ocorre na maioria dos países europeus), ou então, aceitar a pobreza evidente com um nível de desemprego menor, como nos EUA.
c) A renúncia a utopia significa a renúncia ao poder. A renúncia aberta à utopia é um cheque em branco ao abandono da política por parte da própria política. Só quem é capaz de entusiasmar-se, ganha apoios e conquista o poder. Quanto mais imaginativa a política, mas crível e grande em seu entusiasmo se converte a pretensão de fazer política, tanto mais forte será, porque reativará sua própria lógica interna.

2. Do professor Natalio Botana - historiador e politólogo argentino. Um lúcido - e raro - pensador, que articula instrumentos teóricos com análise de conjuntura. Diz ele:
a) A arte da competitividade - a soma inteligente de alternativas e alternâncias -não se aprende da noite para a manhã. Na realidade, o desenvolvimento de tal estilo depende da capacidade representativa da sociedade civil. Se nossa sociedade é incapaz de fazê-lo e de apresentar alternativas viáveis frente às políticas que encarnam os governos, não há porque se estranhar que os sistemas sem alternância sigam impondo sua lógica.
b) Assim, se provará, mais uma vez, que as hegemonias, personalistas ou de partidos, são também produto da debilidade dos contrários (da oposição). Na medida em que estes encontram algum vínculo de união, capaz de transcender o mero oportunismo eleitoral, as coisas começam a mudar.

3. Do analista Daniel Cohen no Le Monde de 23 de novembro, analisando a vitória de Segolene Royal na convenção do PS francês. Diz ele:
Os candidatos tendem a radicalizar as suas posições, via Radicalismo Estratégico ou Radicalismo Partidário. O radicalismo estratégico obedece a um simples principio: um partido tem todo o interesse de fazer surgir temas de campanha que unem seu próprio campo e dividem o do adversário. O radicalismo partidário é completamente diferente. Busca agradar o coração de suas bases respectivas mais que o conjunto do tabuleiro.

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