Dinheiro compra tudo
Por MARIA NEWNUM:
Com muito custo alugamos um apartamento que pudesse abrigar nossa biblioteca de mais de 3000 títulos. Não temos um vintém furado, só livros. Ficamos felizes da vida. Até que veio a primeira chuva forte; pânico geral, descobrimos que estávamos na “descobertura” do prédio. O proprietário esforçou-se, e quase 2 anos depois, o problema estava totalmente sanado.
Provamos 4 meses de sossego pleno, até que decidiram pintar o prédio. Recomeçou o martírio, os trabalhadores com a delicadeza de elefantes, começaram a jogar, literalmente, aqueles equipamentos pesados e a pular sobre nosso teto. Imediatamente liguei para imobiliária, aconselhando que alguém viesse conversar e explicar o histórico do teto, quem sabe, isso os sensibilizasse. Mas a moça disse: “Se acontecer algo o condomínio acionará a empresa contratada, que pagará tudo.” Falei: - Mas não seria melhor tentar prevenir? Como ficará se começar a chover novamente? Mas ela insistiu no argumento.
Resolvi eu mesma falar com os trabalhadores. Expliquei a situação e novamente veio resposta de forma bem arrogante, por sinal: - “Se acontecer algo a empresa paga.” Perguntei: - E quem vai pagar nosso incômodo, nosso meu aborrecimento, nossos livros? O homem, sem demonstrar bondade, me ignorou.
Recolhi-me a minha insignificância, com sensação de impotência gigante. Nem preciso dizer que estamos novamente descobertos e sem bacias suficientes para as goteiras. Pedi a imobiliária uma lona para cobrir os livros e nada. Para ajudar, estamos no período das tempestades... Sabe Deus o vai acontecer. O fazer? O que você faria?
Na mentalidade de alguns, o dinheiro compra tudo. Já vi filhos de pessoas ricas dirigirem sem habilitação e fazer rachas. Quando questionados, a resposta é a mesma: - “Qualquer coisa, meu pai paga”. Anos atrás um grupo colocou fogo num índio, enquanto ele dormia na rua. Será que os pais conseguiram bancar essa conta?
Estou sem paz, o tempo esta fechando e sei que virá chuva. Mas, fico pensando nas outras pessoas que estão experimentando essa mesma condição de impotência diante de situações ainda mais graves. Nesse exato momento, alguém está velando um filho no caixão ou empurrando sua cadeira de rodas porque alguém achou que poderia pagar a multa por avançar o sinal.
É uma desgraça achar que o dinheiro paga tudo.
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(*) Maria Newnum é pedagoga, mestre em teologia prática, vice-presidente do Movimento Ecumênico de Maringá e coordenadora da Spiritual care Consultoria. Para comentar ou ler outros artigos clique aqui ou aqui.
4 pitacos:
Maria, posso te emprestar uma lona...
Miguel
Miguel será bem vinda. Porém tem que ser de tecido, tipo usada para caminhoes, mas nova, por conta dos livros. Tenho alergia a plásticos.
Qualquer coisa meu email
é marianewnum@yahoo.com.br
Obrigado epla solidariedade
Maria
Eita, é dessas de plástico, amarelinha.
Miguel
Conheço muito a Maria Newnum pessoalmente , ela realmente é uma pessoa especial, tem sensibilidade e muita inteligência. Cuide bem de sua biblioteca amiga!
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Vê lá o que vai escrever! Evite agressão e preconceito. Eu não vou mais colocar xizinho; na dúvida, não libero o comentário.