28.11.06

Desde o início, suspeita de execução

Matéria publicada em O Diário dia 1o de outubro do ano passado, feita por Roberto Silva (Sevilha foi morto dia 29 de setembro):

Há consenso na polícia de que assassinato de José Antônio Sevilha de Souza foi a mando de alguém incomodado com a atuação dele na Polícia Federal. Um crime com muitas vertentes. Esta era a situação, ontem, das investigações que apuram o assassinato do auditor e chefe do controle aduaneiro da Receita Federal de Maringá, José Antonio Sevilha de Souza, 45, que também respondia pelo comando das atividades de repressão ao contrabando na região noroeste do Paraná.
O único consenso no meio policial era de que Sevilha - como a vítima era chamada por amigos e colegas de trabalho - foi morto por encomenda e que o assassino, que agiu acobertado por um comparsa, seria pistoleiro profissional, com conhecimento no preparo de tocaia.
"Quem cometeu o crime demonstrou ter experiência no ramo. A execução aconteceu da forma como foi planejada. Não tenho dúvidas de que estamos diante de um profissional frio e calculista", afirmou um investigador que trabalha no caso.
Uma força-tarefa com integrantes das polícias Federal, Civil e Militar ficará encarregada de identificar e prender os assassinos. A Procuradoria da República e o Ministério Público Estadual acompanharão as investigações, dando suporte para que o crime seja elucidado no mais curto espaço de tempo possível.
Numa reunião, realizada na tarde de ontem entre as polícias Civil e Militar, ficou acordado que o inquérito tramitará na Delegacia de Polícia Federal (DPF) de Maringá, onde também se concentrarão todas as pistas que surgirem no decorrer das investigações.
"Temos de ter serenidade para aguardar o trabalho das polícias, que vão determinar as causas e encontrar os responsáveis", afirmou o delegado da Receita Federal de Maringá, Décio Pialarissi, que passou a tarde acompanhando o velório e confortando a família da vítima.
O crime aconteceu por volta das 21 horas de quinta-feira, quando Sevilha trafegava de carro por uma rua do Jardim Novo Horizonte, zona sul de Maringá. Empunhando uma pistola semi-automática calibre 7.65, um homem aproximou-se do Fiat Brava do auditor, que havia parado após passar por um quebra-molas, e disparou quatro tiros à curta distância, todos de cima para baixo.
Atingido no dedo polegar da mão esquerda, braço esquerdo, tórax e clavícula, Sevilha morreu na hora. Uma jovem que estava no terraço de um sobrado e um guarda noturno que estava no portão de uma casa teriam presenciado o crime e contado à polícia que viram o assassino fugir na garupa de uma moto vermelha, possivelmente Titan ou CG, cujo condutor permaneceu aguardando na esquina, acelerando forte.
Ainda de acordo com uma das testemunhas, o assassino - que estava escondido na esquina - teria caminhado em direção do carro com a arma apontada na direção do motorista. A informação coincide com os ferimentos no corpo da vítima, levando a polícia a concluir que Sevilha, ao notar a arma, teria estendido a mão para tentar se defender.
Primeira a chegar ao local do crime, a Polícia Militar recolheu quatro cápsulas calibre .32 que estavam no asfalto, tipo de munição importada que também pode ser utilizada em pistola semi-automática calibre 7.65. Um projétil, com ponta afilada e revestida, que transfixou o corpo da vítima e caiu, praticamente intacto, no banco do carro, confirmou o calibre.

Assassino estudou local do crime e preparou tocaia, diz investigador
Segundo a polícia, Sevilha havia acabado de deixar a casa da mãe, residente na rua Júlio Meneguetti, para buscar a esposa, que estava num hospital, quando foi surpreendido. De acordo com o superintendente da Polícia Civil, investigador João Osmar Evarine, para assegurar a execução do crime o assassino estudou o local e preparou uma tocaia.
Protegido pela escuridão, ele furou o pneu traseiro direito do carro da vítima, que estava estacionado na contramão de direção. Pela disposição do veículo, o assassino concluiu que Sevilha desceria a rua e passaria por um quebra-molas, disposto um pouco mais abaixo. A pancada da roda contra o redutor faria Sevilha frear e descer para checar o problema.
As primeiras investigações revelaram que nada havia sido roubado da vítima, o que, de imediato, afastou a hipótese de latrocínio. Horas depois, a polícia descobriu que Sevilha estava em processo de separação conjugal e que tinha uma namorada. A suspeita de crime passional levou a Polícia Federal a convidar a moça a prestar depoimento.
Outra pista apontava para uma organização criminosa desbaratada pela PF e Receita Federal, em maio passado, em meio à Operação Hidra, desencadeada nos estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e São Paulo. Os processos movidos contra os chefes da organização, tida como a maior rede de contrabando do país, que estão presos em Maringá, teve a Receita Federal como a grande responsável pela apuração de provas.
A terceira ? e mais importante ? pista surgiu ainda pela manhã, dando conta da participação de Sevilha em investigações que teriam resultado no afastamento de um funcionário da Receita Federal de Foz do Iguaçu envolvido em corrupção. "Se levarmos em conta o tipo de munição utilizada pelo assassino, que é importada e adquirida no Paraguai, podemos dizer que alguma coisa aponta para a região oeste do Estado", adiantou um policial, que pediu para não ser identificado.
Investindo na possibilidade de os assassinos serem de fora, a hipótese de eles terem chegado em Maringá há alguns dias e se hospedado em algum hotel da cidade não foi descartada. Toda rede hoteleira, motéis e até a Estação Rodoviária passaram a ser investigadas.
Outro detalhe é uma motocicleta Honda CG, ano 81, furtada na manhã de quinta-feira na avenida Brasil, centro da cidade. Até o início da noite de ontem a moto não havia sido encontrada. "Nenhuma pista pode ser descartada. Tudo está sendo checado, por mais improvável que possa parecer", adiantou Evarine.

Fiscal deixa três filhos e um neto
José Antonio Sevilha de Souza completaria 46 anos de idade amanhã. A data era especial para toda família, já que sua primogênita fez aniversário ontem (30). Todos os anos, a proximidade dos aniversários era comemorada numa reunião estritamente familiar.
De bem com a vida, Sevilha fazia planos para se reunir com a esposa e filhos no próximo domingo (2), para um almoço na casa da mãe, residente no bairro onde sua vida foi ceifada.
Estudioso, apaixonado e dedicado ao três filhos, de 23, 21 e 19 anos, e ao neto, de três anos de idade, Sevilha ingressou como auditor na Receita Federal em1997. Três anos depois, foi promovido à chefia das aduanas de Maringá e ao comando das atividades de repressão ao contrabando.
"Profissional altamente ético". "Responsável". "Inimigo número 1 dos funcionários corruptos". Estas eram as definições como Sevilha era comumente apresentado por seus amigos e colegas de trabalho.
"A Receita Federal e a Nação perderam um de seus nomes mais importantes", desabafou o delegado da Receita Federal, Décio Pialarissi, que atendeu a reportagem de O Diário logo após chegar na capela do Prever, onde acontecia o velório.
Tentando esconder, inutilmente, a emoção, Pialarissi fez questão de ressaltar que a morte de Sevilha chocou toda estrutura da Receita Federal, ao ponto de mobilizar os nomes mais importantes do órgão para o velório, entre eles, o secretário geral Jorge Rachid, que chegou em Maringá num vôo da Força Aérea Brasileira (FAB); do superintendente da RF do PR, Luiz Bernardes; do superintendente da 2ª Região, José Tostes e todos os delegados da região.
Dezenas de viaturas da Polícia Rodoviária, Polícia Militar, Polícia Federal, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros fizeram a escolta do corpo até o Cemitério Parque, localizado na zona norte, imediações do conjunto Ney Braga. O cortejo deixou a capela do Prever às 17h45 e levou cerca de uma hora para chegar ao destino.

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