22.9.06

Mulheres nuas e moralismo

Por MARIA NEWNUM

Um texto da Bíblia diz: “Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher surpreendida em adultério e, fazendo-a ficar de pé no meio de todos, disseram a Jesus: Mestre essa mulher foi apanhada em flagrante adultério. E na Lei nos mandou Moisés que tais mulheres fossem apedrejadas, tu, pois, que dizes?” João 8:3-5.
O final dessa história é conhecido. Em silêncio, as pessoas que se retiraram. Jesus as fez reconhecer que seus pecados as desabilitavam a julgar aquela mulher.
Com relação à exposição de meninas e mulheres nuas por seus parceiros na internet, vê-se uma volta ao episódio descrito nesse texto. Rapidamente surgem os que as querem punir. Como na história bíblica, também hoje elas experimentam o silêncio. Porém, não parece ser o silêncio dos que reconhecem seus pecados; mas um silêncio condenatório que as abandonam nas mãos dos algozes virtuais.
Entre as vitimas da internet, há mulheres maduras e há meninos e meninas. Há casos de aliciamentos em salas de bate-papo seguido de seqüestro e sexo forçado diante de uma câmera e poses voluntárias para parceiros em momentos de total intimidade conjugal.
O silêncio é cômodo e tem garantido demora nas resoluções jurídicas e até impunidade nos casos específicos de mulheres vitimadas por parceiros.
Contudo, percebem-se avanços da justiça para crimes financeiros. Mexer no bolso de homens e grandes empresas impulsionam medidas rápidas.
Casos de pedofilia e racismo nas comunidades do Orkut também já constam de precedentes jurídicos e isso não se deve ao silêncio, mas às denúncias constantes de ongs e entidades ligadas aos direitos das crianças e adolescentes. Inexplicavelmente o mesmo não aconteceu às mulheres. Será que o silêncio “falou mais alto”?
“Imagens falam mais que mil palavras”. Ora, essas mulheres não falam. A jurisprudência moralista as condena baseada nas imagens da tela, sem direito à voz de defesa. As imagens as retratam como libertinas promíscuas e vagabundas. O moralismo silencia as vozes dos homens e mulheres que deveriam gritar contra os parceiros criminosos.
O moralismo tenta cercear prazeres em todos os âmbitos da vida. O prazer sexual é, e sempre foi, alvo máximo do moralismo. No fundo os moralistas querem controlar o que as pessoas fazem na cama. Poder e controle sustentam os pilares do moralismo. Atrás de discursos moralistas comumente escondem-se indivíduos de moral duvidosa ou personalidades desprovidas de autonomia e coragem para pensar e agir por si. Pessoas sem autonomia seguem, sem questionar, o que o senso comum moralista decide por elas.
O exemplo de Jesus nesse texto reflete sua autonomia, coragem de ir na contramão do senso comum e reflete ainda que ele não tinha nada a temer, nem a esconder.
A omissão perante os crimes na internet envolvendo meninas e mulheres nesses dias, precisa ser analisada nesse contexto de moralismo, controle e falta de autonomia de homens e mulheres que, ao contrário de Jesus, não possuem, ora moral, ora coragem autônoma, de ir na contra-mão da ditadura imposta pelo moralismo de uma sociedade hipócrita e cruel.
O moralismo impede que se perceba que a punição não deve cair sobre a vitima, mas sobre o autor do crime.
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Maria Newnum é pedagoga, mestre em teologia prática, vice-presidente do Movimento Ecumênico de Maringá e Coordenadora da consultoria Spiritual care. Para comentar ou ler outros artigos clique aqui.

1 pitacos:

Anônimo,  12:36  

Se a lei de Moisés fosse cumprida a risca... Rapaz... vou falar uma coisa, com certeza faltaria pedra... A tal prostituta, essa da Bíblia, segundo "o código da vince" casouse com Jesus e tiveram filhos e filhos...

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