4.9.06

Da disputa eleitoral à ofensa dos direitos da sociedade civil

Por JACHELINE PEREIRA

Estamos vivendo um período de disputa eleitoral, onde nos últimos dias encontramos nas ruas de nossa cidade vários cabos eleitorais, de diversos candidatos e correntes políticas de nossa cidade e região.
Os materiais distribuídos nas ruas, pouco oferecem em termos de propostas e projetos voltados aos reais interesses coletivos, normalmente passam longe das aspirações da sociedade e suas necessidades básicas, sem referendar e assumir compromissos de defesa dos direitos mais ínfimos dos cidadãos(ãs). Muito pelo contrário, até ofendem direitos básicos da sociedade.
Salientamos que dentre os interesses coletivos, a defesa do meio ambiente tem sido um tema de grande relevo na sociedade civil, pois pressupõe o equilíbrio entre desenvolvimento e respeito a biodiversidade, bem como o respeito a um ambiente sadia, visando a defesa das gerações futuras.
Não menos importante é o tema sobre abuso do poder econômico e uso da máquina pública com fins pessoais, alvo de represálias do Superior Tribunal Eleitoral, através de novas regras direcionadas a coibir esses crimes nas eleições.
Entretanto, no amanhecer do dia 03.09.06, qualquer cidadão (ã) maringaense que se dirigisse ao Parque de Exposições, no evento denominado Hallel, se depararia com um verdadeiro ato criminoso contra o meio ambiente, cometido pelos candidatos a alguma coisa.
Inúmeros candidatos dos mais variados segmentos e siglas partidárias, através de cabos eleitorais, despejaram milhares e milhares de panfletos sobre os cidadãos (ãs), antes interessados em participar do evento religioso, deixando os limites do local repleto de papéis no chão, expressando o descaso e a pouca responsabilidade com os anseios da sociedade civil.
Logo eles que deveriam dar um exemplo de civilidade e respeito com o meio ambiente e a sociedade em geral.
Nesse mesmo sentido, percebemos que muitos dos materiais lançados ao chão, pertenciam a um mesmo candidato, sendo que sobre o mesmo foram distribuídos materiais diversos, de todas as formas e modelos.
O interessante é que além do descaso com patrimônio público (pois naquele momento o parque e suas imediações se revestiam do caráter público, estando a albergar inúmeras pessoas de diferentes locais e segmentos), observando-se a natureza do material distribuído, percebemos se tratar de material de alta qualidade, com papel colorido e resistente, clara demonstração de alto investimento de recursos no pleito eleitoral, configurando sob o ponto de vista ético, o abuso de poder econômico, com gasto excessivo na disputa eleitoral, em contradição com um país à beira da fome e da miséria.
Por se tratar de um evento religioso ligado a Igreja Católica Apostólica Romana, logo percebemos o antagonismo entre as diretrizes traçadas pela Santa Sé e os candidatos, muitos dos quais se auto denominam católicos, mas sem assumir responsabilidade pela fé e política pregada nos limites dos inúmeros documentos cristãos referentes a relação Igreja/Política.
A Doutrina Social da Igreja Católica prega que a ética política pressupõe o respeito dos políticos cristãos aos interesses da coletividade, repousando suas ações conforme os anseios da sociedade pelo respeito a vida e a dignidade humana, inclusão social, combate a fome e a miséria, respeito ao meio ambiente, saúde, educação, entre outros temas gerais, que direcionam os cristãos católicos no mundo, em especial, na América Latina e no Brasil.
Visando reafirmar os princípios sociais da Igreja Católica em documento orientador da ação cristã na política, a CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, ensina um novo modelo de se participar da vida política no Brasil, exaltando a participação popular e a atenção aos interesses coletivos, impulsionando a formação da consciência cívica e ética, visando banir das esferas política e de poder, os maus políticos e seus interesses pessoais, direcionando seus fiéis a uma análise sobre os candidatos e suas propostas, seus compromissos com a comunidade.
Assim sendo, os materiais lançados nos portões do Parque de Exposições poderiam ter sido usados de forma positiva, seguindo as diretrizes e orientações do órgão superior da Igreja, trazendo e multiplicando votos ao candidato, através de um trabalho direcionado aos eleitores na base da sociedade e da própria instituição, buscando um vínculo sólido com os cidadãos (ãs) e seus interesses coletivos, sem ofender e desrespeitar o espírito público e coletivo do evento, muito menos aos direitos daqueles que estavam participando do mesmo.
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(*) Jacheline Batista Pereira é advogada; membro do Conselho Permanente de Direitos Humanos do Paraná; ex - presidente do Conselho Municipal da Mulher de Maringá; ex – coordenadora da Comissão de Direitos Humanos do Paraná

1 pitacos:

Anônimo,  22:53  

O texto ficou lindo, mas, duas perguntinhas básicas: A qual igreja católica ele se refere? A do século XV? Que perseguia, matava, queimavam vivos... Igreja e política não se misturam e já faz tempo isso, até porque, cada vez que acontece de se misturarem, vem as guerras por trás, vide EUA e Iraque, Afeganistão, Israel, entre outras barbaridades no mundo. E de quem são os "santinhos"? Eu não fui em hallel e não vi.

Miguel (consultor)

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