Maringá perde árvore em forma de mulher

Por MARIA NEWNUM

No dia 18 de julho o amanhecer em Maringá foi lindo. De tantas árvores que a cidade possui, poucos perceberam a ausência de uma árvore pequeninha, estrondosa, florida e dona de tantos frutos.
A cidade canção perdeu uma árvore em forma de mulher. A mulher Dirce Bernardi Henriques, dessa data em diante irá florir nas primaveras do céu. A cidade ficou menos bonita, os amigos e amigas tristes com a partida repentina. O céu, ao contrário, ficou mais enfeitado, mais elegante, mais iluminado e florido.
Dirce era como uma dessas árvores que, apesar da estatura miúda e delicada, são fortes e grandes. Conseguia fazer aquela sombra gostosa e fresca que acolhia pessoas de todas as classes sociais. Das mais simples as mais letradas, das mais ricas as mais pobres, as pessoas sentiam que eram tratadas com distinção por Dirce.
Ela era elegante sim, vaidosa ao extremo, chic ao máximo, mas nunca esnobe. Em sua casa, recebia amigas antigas e, às vezes, abria as portas para outras que só conhecia de ouvir falar, como fez a essa que vos escreve. Bem ao seu estilo de mulher do interior, sem frescuras...
No memorial de despedida o padre Orivaldo Robles surpreendeu ao dizer que não daria os pêsames à família e aos amigos, e sim, parabéns pelo privilégio de terem compartilhado da companhia de uma filha de Deus tão comprometida em sua prática de vida com os ensinamentos de Jesus como Dirce. E completou: “Ela não apenas servia aos doentes de aids, mas todas as noites rezava por eles. Ela deixou um rastro de luz, como se dissesse, esse é o caminho, sigam...”
Padre Robles falou das pegadas profundas de Dirce em Maringá através de sua dedicação aos doentes de aids da Casa de Emaús, os quais ela chamava de meu povo. Quando sua única filha lhe chamava atenção pelos excessos com o trabalho na casa de Emaús e o descuido com o coração, ela dizia: “Me deixa, o meu povo precisa de mim”.
O coração falhou com ela, mas ela não falhou com seu povo. Ao contrário do sentido que os políticos usam quando desejam pedir votos, Dirce entendia o “seu povo” uma extensão da sua vida, uma missão. Missão essa, que ela concluiu, naquilo que entendia ser a sua parte. Até havia dito a uma das mulheres atendidas pela casa que estava pronta para tirar umas férias.
Dirce saiu de férias... E mais uma vez surpreendeu aos amigos e parentes, foi espreguiçar-se no céu...
No cemitério em meio ao uma multidão de amigos e amigas, observei uma mulher que lhe atirou um beijo no ar, como se dissesse: “Cuide-se minha querida, vou ficar com saudades...”.
Esse é o ciclo das árvores humanas. Elas nascem, crescem, espalham os seus ramos de flores e frutos até que um dia decidem florescer no céu junto de Deus...
A essa árvore em forma de mulher, enviemos alguns beijos lançados pelo ar, com saudades....
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(*) Maria Newnum é pedagoga, mestre em teologia prática, vice-presidente do Movimento Ecumênico de Maringá e Conselheira no Conselho Municipal da Mulher de Maringá. Para comentar ou ler outros artigos acesse: http://br.groups.yahoo.com/group/LittleThinks/