Belíssima, o reino encantado dos desencantos
Por LUIZ FERNANDO RODRIGUES
Belíssima era um reino distante, conhecido por seus suntuosos parques, suas largas estradas e pela qualidade de vida de seus súditos. Pessoas pacatas que ao longo dos anos perderam a capacidade de indignarem-se, talvez resquícios de reinados autoritários do passado. O reino era formado, em sua maioria, pelos gregos e seus descendentes. O poder era dividido entre os súditos através de cotas que permitia, a cada quatro anos, a escolha do rei e também o direito de voz no reinado. Porém, algo temeroso estava para acontecer. Os magos, bruxos e curandeiros da época previam que o passado estava para se repetir. Os súditos do reino, utilizando-se de seu poder, e também manipulados pelos megafones – principalmente o de Gordus – e pelo poderio financeiro da família Falcão, levaram Falcão II ao trono. Falcão II era filho de Falcão I e irmão de Gavião, que também já foram sagrados ao trono. Este último cometeu muitas atrocidades durante o reinado e pela pressão dos súditos, teve que sair do castelo real pelas torres para não ser condenado ao enforcamento. Mas o reino de Belíssima não esperava tamanha decepção. As promessas de Falcão II eram tão convincentes e, segundo ele, possíveis de serem realizadas, que não se esperava tanta truculência durante seu reinado. Os súditos que o levaram ao poder não tinham mais acesso ao castelo e ao volume de impostos arrecadados, tampouco ao que era gasto. Os servos do castelo passaram a ser oprimidos e perseguidos a tal ponto que resolveram cruzar os braços. Mas Falcão II não admitia tamanha ousadia. Ora, aqueles gregos não poderiam enfrentá-lo de tal forma, afinal ele era o Rei, ele deveria ditar o que seria pago a eles e de que forma. A representante dos servos, uma jovem mulher, jamais poderia afrontá-lo e exigir direitos dos servos. Sua ira, então se voltou contra os servos, convocando Orks que, escondidos em suas armaduras perseguiam os servos gregos e seus representantes nas madrugadas frias e durante suas manifestações e protestos. Além disso, servos de outros reinos foram chamados para substituir os servos gregos. Uma afronta, já que os gregos há anos serviam àquele reino e jamais haviam sido perseguidos e tratados de tal forma. Os servos gregos queriam apenas ser tratados com respeito e dignidade, queriam o direito de dialogar com aquele que era o representante escolhido pelos súditos do reino para governar. Mas Falcão II usou de suas armas para garantir que a situação não fugisse de suas mãos: Gordus e outros detentores de megafones espalharam pelo reino que quem estava contra os súditos eram os servos do castelo e que estes é que não queriam o diálogo. A guerra continuou. Mas uma lição se tomou: os súditos organizados tinham o poder nas mãos, eram detentores de um poder inigualável: o de gritar e exigir que seus direitos fossem garantidos, assim como os servos do castelo. Todos dependiam dos servos para limpar suas sujeiras, atendê-los nas enfermidades, educar seus filhos. Um dia os súditos irão entender quem realmente é o opressor do Reino e irão pôr um fim a estes tempos de tirania e despotismo. Só se espera que até lá o reino de Belíssima não tenha que trocar de nome.
(*) Luiz Fernando Rodrigues é servidor público estadual, faz parte da coordenação da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Maringá e do Conselho Municipal de Saúde de Maringá.
4 pitacos:
Isso Fer, adorei o seu texto. Está publicado no Realidade e Cia tambem.
O REI está nu!
Qualquer semelhança com a cidade cançaõ é pura... imaginação???!!!??
ótimo texto. Parabéns Fernando.
muito criativo
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Vê lá o que vai escrever! Evite agressão e preconceito. Eu não vou mais colocar xizinho; na dúvida, não libero o comentário.