16.5.06

Considerações sobre o desfile de 10 de Maio

Por VALTER BAPTISTONI

Na última quarta feira, 10 de maio, Maringá completou 59 anos de emancipação política. Uma cidade extremamente jovem e que busca formar uma identidade nacional de cidade arborizada e com qualidade de vida. Deixando de lado as questões de violência dos últimos dias, o fato de estarmos mais derrubando árvores do que plantando-as, das ruas esburacadas e do mal atendimento à saúde pública etc etc etc, vamos analisar o desfile promovido na quarta feira dia 10 onde gastou-se mais de R$ 40.000,00 com ornamentos e mobilizou algumas milhares de pessoas incluindo soldados do Tiro de Guerra, força policial, bombeiros, estudantes da rede pública e privada entre outros.
O personagem tema foi o escritor e jornalista Monteiro Lobato, nome muito popular no meio literário e com ênfase a obra ¨Sítio do Pica-pau Amarelo.¨ Monteiro Lobato viveu num momento histórico de nosso país onde passávamos de Monarquia à República (faleceu em 1948) e retratou bem na obra citada o momento social em que vivia; havia uma política de branqueamento da população, a chegada dos imigrantes na substituição da mão de obra escrava e o descaso com os ex-escravos agora sem espaço na sociedade pois o abolicionismo não encontrou empregos para os negros. Por isso vemos no Sítio do Pica-pau Amarelo a condição social retratada da época vívida: o folclórico Saci é um duende negro , a cozinheira Tia Anastácia é negra que também limpa a casa, Tio Barnabé é um curandeiro negro. Aos brancos restam a dona do sítio Dona Benta, aos netinhos Pedrinho e Narizinho.
A criatividade de Monteiro Lobato e sua genialidade foi o tema do desfile porém resta-nos perguntar: O que Monteiro Lobato pode trazer de positivo para Maringá no dia do seu aniversário? O escritor mostra claramente em sua obra que perdeu a oportunidade de criticar construtivamente o sistema quando tantos negros estavam abandonados pelas ruas sem ocupação e famintos desprezados pela mesma sociedade que serviu ao invés de encontrar papéis secundários para eles em seu ¨Sítio¨.
Maringá necessita de mais que isso, por quê não termos como temas os escritores maringaenses? São tantos nomes que temos e tanta criatividade que valorizariam nossa gente. Por quê não distribuirmos entre as crianças que assistiam ao desfile, obras de escritores maringaenses ao invés das obras de Lobato?
Na ala do desfile crianças fantasiadas de Saci Pererê desfilavam porém com uma falta de respeito grave com a própria obra de Lobato: os sacis eram brancos e não houve a preocupação de pinta-los de preto, atrás da Cuca vinha uma garotinha empurrando uma carriola com o caldeirão da bruxa jacaré e esta criança era a única descendente afro-brasileira que notei naquele grupo.
O aparato de seguranças também chamou a atenção: será que estamos tendo que aderir a onda anti-terrorismo americana?
Talvez se buscássemos a opinião da sociedade na formação do desfile, promovêssemos nossos valores locais , teríamos mais público para vê-lo e o desfile de aniversário de Maringá seria um programa familiar onde poderíamos então nos orgulhar mais ainda desta maravilhosa cidade e estaríamos formando nossa história para as próximas gerações, quem sabe inaugurando uma tradição: valorizar o cidadão maringaense e sua história.

(*) Valter Baptistoni - Historiador

3 pitacos:

Anônimo,  07:43  

Tem gente que não tem o que falar mesmo, o desfiles do PT foram lindos com MST e tudo mais, com 30 minutos de duração uma verdadeira merda esse se não foi o mais bonito foi um dos, criticar Monteiro Lobato quem é vc.

Anônimo,  12:41  

Que bom saber que temos historiadores em Maringá com capacidade de fazer tão boa reflexão. Conseguiu resgatar com grande proporiedade o sentimento de pessoas que pensam nesta cidade e se fizeram presentes no desfile de aniversário de Maringá. Este desfile foi uma verdadeira lavagem cerebral na população. Que Pena.

Anônimo,  19:33  

O tal do "municipe" (sic) é um cidadão pela metade mesmo, já que os analfabetos nunca serão cidadãos completos. Esta, aliás, é uma de nossas desgraças. E digo analfabeto porque não tem o menor cabimento ficar irritado com uma "crítica" a Monteiro Lobato e, ao mesmo tempo, esculhambar o PT e o MST. Por acaso não sabe o nobre senhor que Lobato era comunista e defendia a reforma agrária, a nacionalização de nossas riquezas mineiras - foi o pioneiro da exploração de petróleo no Brasil, com uma companhia de que foi presidente, depois pioneiro na campanha "O Petróleo é Nosso" -, bem como todas as nossas riquezas, etc etc etc? E Lobato não era desses comunistas ou supostos progressists que gostam de escrever e escrever e escrever e só; era um militante incansável, um lutador, tendo sido, inclusive, um dos deputados constituintes pelo PCB, em 1945, ao lado de JOrge Amado, Luiz Carlos Prestes e muitos outros brasileiros honrados destes memoráveis tempos. Se Monteiro Lobato estivesse vivo seguramente estaria apoiando o que apoiava há décadas e décadas atrás, portanto a reforma agrária etc. E pode ter certeza que não estaria compartilhando canalhices com esss quadrilhazinhas de plantão, dentre elas esta que se apoderou do dinheiro e da alma dos maringaenses.

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