27.4.06

Com os diabos

Do Jornal do Estado:

Membro da quadrilha que operava esquema de extorsão dentro do Instituto de Criminalística do Paraná, o diretor-geral do órgão, Ari Ferreira Fontana, é um velho conhecido da família Requião.
Fontana ganhou fama, em 2002, ao aparecer no programa de campanha do então candidato ao governo, Roberto Requião, contestando a veracidade de um vídeo em que o peemedebista surgia dizendo-se disposto a subir no “palanque com o diabo” para chegar ao Palácio Iguaçu.
Até aí é público e notório. O que estava restrito ao círculo íntimo dos Requião, no entanto, é o fato de que Fontana também foi contratado pela família para apresentar um “laudo alternativo” ao acidente que envolveu o sobrinho do governador, João José de Arruda Júnior.
Refresque-se a memória do leitor. Em outubro de 2001, João Arruda, dirigindo um Ford Explorer, furou o sinal vermelho no cruzamento das ruas Amintas de Barros com Tibagi, no centro da capital, e bateu em um Astra. Duas mulheres morreram. Outras quatro pessoas ficaram feridas.
O caso ganhou notoriedade porque Requião, então senador, foi chamado ao local e consta que teria dado uma “carteirada” para livrar o sobrinho do flagrante.
Nas investigações que tiveram curso, foi incluída perícia da Polícia Civil confirmando a culpabilidade de João Arruda no acidente. A família Requião então reagiu da maneira que julgou mais apropriada. Convocou Fontana, perito aposentado do IC, para que apresentasse um laudo alternativo.
Registre-se que Fontana apresentou sim um relatório e que nele – oh, supresa! – as conclusões foram diametralmente opostas àquelas apresentadas na primeira perícia. Registre-se que a Justiça, a bem da verdade, também recusou o laudo do perito a soldo dos Requião.
O que se soube, depois, é que os laços de amizade fraternal mantiveram-se intactos. Eleito governador, Requião fez de Fontana o diretor-geral do IC até que ele fosse pego com a boca na botija, na terça-feira, sob a acusação, entre outras, de expedir laudos falsos para a legalização de carros roubados. Gente fina, como se vê.
Quanto a João Arruda, ele foi condenado por duplo homicídio culposo pela Justiça e sentenciado a três anos e nove meses de detenção. Não passou um dia sequer atrás das grades. Gente fina, como se vê.

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