Por que não investigar?

Comentário da cientista política Lucia Hippolito na CBN:

"Quanto mais a gente reza, mais assombração aparece. Agora chegou a vez desta estranhíssima lista de Furnas.
Só para lembrar: no segundo semestre do ano passado começou a circular uma cópia xerox de uma cópia autenticada de uma suposta lista que trazia uma relação de doações para a campanha de 2002. Nesta lista apareceriam como beneficiários candidatos a presidente, governadores, senadores, deputados federais, de vários partidos, mas sobretudo de partidos da base do governo de então, isto é, do governo Fernando Henrique.
O autor dessa suposta lista teria sido um diretor de Furnas, Dimas Toledo, tido e havido como operador de várias campanhas políticas. O homem seria tão bom, que teria sobrevivido à posse de Lula e à chegada do PT ao poder e só saiu depois das denúncias feitas pelo ex-deputado Roberto Jefferson sobre o escândalo do mensalão.
No Congresso, alguns parlamentares da base aliada ficaram felicíssimos com a volta da lista ao noticiário. Mas parlamentares da oposição não ficaram nada satisfeitos, porque da lista constariam, além de nomes que hoje têm assento no Conselho de Ética da Câmara, tucanos de altíssima plumagem.
A lista de Furnas é uma pequena amostra do que promete ser esta campanha eleitoral de 2006: uma guerra de denúncias, de dossiês e de acusações entre os principais partidos brasileiros.
E mais: o potencial de chantagem de um documento desses é muito grande, porque o estrago que pode provocar é igualmente enorme. E lá vamos nós para cenas do tipo: “Você não fala mais no meu caixa 2, que eu não falo no seu”. Ou então: “Se você denunciar o meu doleiro, eu denuncio o seu”.
E por aí vai, ladeira abaixo.
Quanto à lista de Furnas, não se sabe se é verdadeira ou não, porque nem o original apareceu. Como vimos, trata-se ainda de uma cópia de uma cópia. Agora, se houver algum fiapo de verdade nesta lista, por que não investigar? Se envolve membros do governo Fernando Henrique, que sejam investigados e punidos, se tiverem responsabilidade.
Algumas reputações podem sair chamuscadas, é verdade. Infelizmente, este é um dos preços a pagar por quem decide fazer carreira política. O político tem que estar preparado para viver numa vitrine.
O que não dá é para passar toda a campanha eleitoral com cadáveres chacoalhando dentro do armário, e aqueles que têm as chaves dos armários posando de grandes articuladores políticos, mas na verdade se comportando como chantagistas.
Ninguém merece eleger um presidente da República nesse clima."