7.1.06

A natureza vai cobrar

O artigo está em O Diário deste sábado. O blog tomou emprestado e dedica-o a pessoas que se dizem lideranças, com responsabilidade social, mas fazem parte da turma que trabalha contra a natureza:

Por DONIZETE OLIVEIRA

Nunca dei crédito a previsões, mas gosto de ouvi-las. Todo fim e começo de ano, elas se repetem ditas por gente das mais diferentes crenças. Dia desses, assistia a um programa de televisão. Não me lembro do canal, pois na frente da TV não paro de apertar o controle remoto. Os programas são pobres e parecidos. É difícil encontrar algo que preste. Na verdade, prefiro o rádio porque fala menos besteiras sem tanta hipocrisia.
Mas num desses relances pela telinha deparei com a previsão de um cidadão, do qual não me lembro o nome. Dizia ele que em 2013, o mundo sofrerá uma grande Tsunami por causa de um vulcão que vai entrar em erupção no Arquipélago das Canárias. O cataclismo produziria ondas de 140 metros de altura por lá e alcançariam o litoral brasileiro com 80 metros.
É apenas uma previsão entre tantas, de uma pessoa que nem me lembro o nome. Assim como há quem atribui aos tsunamis as extinções do período Quaternário, a exemplo dos mamutes, tigres dentes-de-sabre, ursos da caverna, preguiças gigantes, entre outros.
Há também a extinção da Atlântida, o continente perdido. A lenda, contada por Platão e outros, diz que os atlantes eram um povo sábio e desenvolvido, que dominavam várias tecnologias, mas teriam sido engolidos pelo mar.
Esses comentários não são levados a sério. Também não me preocupo com isso, apesar de respeitar Platão pelo conjunto da obra. Talvez, não passem de mito. Se bem que meu velho pai, lavrador e analfabeto, dizia que atrás de um mito sempre existe uma verdade. Ele morreu defendendo essa e tantas outras opiniões consideradas absurdas.
Tirando mitos, lendas e previsões, o que se vê hoje é um perigo iminente. Palpável. Nos últimos anos, tenho andado muito pela região e um pouco pelo Brasil. O que tenho visto é assustador. Basta uma nesga de sensibilidade para perceber que a natureza é agredida, espezinhada. Tentam matá-la a qualquer custo. Só que ela não morre, reage, com violência.
Não é difícil encontrar pelo Brasil luxuosos hotéis construídos a 30 metros do mar. Seus hóspedes pagam diárias altíssimas. Dizem que não poluem, mas se ali estão, impossível não agredir o ecossistema.
Um dia conversava com um velho pescador, vizinho de um desses hotéis, e ele me dizia que os "gringos" (americanos e europeus) chegavam de barcos equipados e pescavam em locais proibidos. As chamadas reservas ecológicas. "Se eu entrar nessas áreas com meu barco vou preso na hora, mas esse povo, não, faz o que quer e fica por isso mesmo", reclamava ele.
Aqui na região, nem se fala. Os rios estão cheios de lixos e espuma expelida por fábricas de vários gêneros. Constroem-se condomínios abastados quase dentro dos seus leitos. Plantio de árvores e soltura de alevinos ajudam, mas não anulam esse crime.
A mensagem que nos resta para o ano que se inicia é trabalhar para que a humanidade mude a mentalidade. Se os justos herdarão a Terra, como diz um provérbio religioso, seja qual for o contesto, sejamos justos com nossa mãe Terra. É preciso entender que fazemos parte de um todo, onde micro e macro bebem na mesma fonte. Por que, então, sujar a água?
Protocolo de Kyoto, aquecimento global, efeito estufa, mudanças climáticas soam distante. Melhor esquecer esse palavratório e repensar nossas atitudes. Sejamos menos arrogantes e ambiciosos. E que isso ocorra antes de a natureza mandar a conta. Não sei se será em forma de tsunamis que, para alguns entendidos, nem teriam a ver com a ação do homem. Mas, de alguma forma, a conta vem aí e, talvez, sem crédito, não possamos pagá-la.

(*) Donizete Oliveira é jornalista em Maringá

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