8.1.06

A entrevista com Umberto Becker


Esta é a entrevista publicada no jornal Hoje Maringá deste domingo, com o advogado Umberto Becker, que assumiu como vereador por um ano, tornando-se o primeiro vereador do PPS. A entrevista foi feita por Ronaldo Nezo.

Primeiro suplente da câmara revela que presidência monopoliza decisões e mantém vereadores sob controle com distribuição de cargos



Umberto Becker (PPS) foi comunicado esta semana que não estará entre os 15 vereadores da Câmara de Maringá quando os trabalhos legislativos começarem em fevereiro. Embora tenha recebido 3.049 votos, o número não foi suficiente para garantir uma vaga definitiva. Ele ficou com a primeira suplência – como aconteceu em 2000, quando disputou pela primeira vez e obteve 1.172 votos.
No ano passado, Becker ocupou a cadeira de Walter Guerlles, licenciado para ocupar a presidência do Saop (Serviço Autárquico de Obras Públicas). Com a reforma administrativa feita pelo prefeito Silvio Barros, Guerlles estará de volta à câmara.
Em entrevista à reportagem do Hoje, Umberto Becker (foto acima)fala sobre as circunstâncias que o impediram de continuar legislando. Ele ainda comenta a reforma política e revela os bastidores da Câmara de Maringá.

Jornal Hoje - O senhor foi comunicado esta semana que perderia a vaga na câmara. Acredita que seu comportamento independente diante do prefeito e dos demais colegas colaborou para que perdesse a chance de continuar na casa?
Umberto Becker – Eu fui comunicado pelo prefeito Silvio Barros na manhã de quarta-feira. Ele falou: dá um pulinho aqui para conversar comigo, porque o [Walter] Guerlles está voltando para a câmara. Tudo bem, fui lá. A primeira coisa que ele me disse foi o seguinte: você não me agradou na câmara. Eu disse para ele: minha intenção não era te agradar. Minha intenção era fazer meu trabalho e representar a população de Maringá. Agradar ao prefeito, agradar ao presidente da câmara ou agradar aos demais vereadores, isso é uma coisa que não me interessava. O que me interessava era fazer meu trabalho como vereador. Eu entendi o quê? Que meu comportamento na câmara não interessou ao prefeito. Muito embora tenha havido um bom trabalho do Guerlles no Saop, o bom trabalho não prevaleceu ao meu trabalho na câmara que ele [prefeito] não gostou. Afinal de contas, eu fui o único que não votou o aumento do IPTU esse ano. É verdade que o IPTU teve uma correção de 1,26%, mas as taxas tiveram um aumento em torno de 18%. Então, a verdade é que o fato de eu ter desagradado na câmara teve mais importância para o prefeito do que a continuidade do Guerlles no Saop. Esse foi o fato preponderante. Agora a reforma [política] não está sendo uma reforma administrativa. O que está acontecendo é uma previsão política para as eleições deste ano. Está vindo gente influente de cidades vizinhas para administrar nossa cidade. Vamos citar aí o Antonio Carlos Nardi que vem de Marialva, o José Luiz Bovo, que vem de São Jorge do Ivaí, e parece-me que está vindo mais gente da região para assumir cargo no município de Maringá. No meu modo de entender, é uma forma de administrarem a eleição deste ano. Ou seja, o povo está de lado.

Quando o senhor ocupou a vaga de vereador na câmara, havia a expectativa que pudesse apoiar ao prefeito, já que o seu partido trabalhou, no segundo turno, pela eleição de Silvio Barros. O senhor diria que a expectativa que depositou no prefeito estaria sendo frustrada pelo que a administração apresentou até agora?
Eu entendo que o Silvio é uma pessoa que tem boas intenções. Ele é um bom prefeito. O problema é que em vez de estar cercado de gente que administra, está cercado de políticos, de raposas antigas, que estão rodeando o Silvio a mando do seu irmão [o deputado Ricardo Barros]. Eu entendo isso, porque a bem da verdade não tem administrador lá dentro; é tudo político. Administrador de verdade mesmo só tem o pessoal de carreira. O Silvio está rodeado de políticos e políticos que não conseguiram grandes coisas pra cidade. Esses compromissos que o Silvio tem estão prejudicando a sua administração. Agora, o Silvio é competente? É. Mas ele está mal assessorado. A influência que está havendo na administração dele por outros políticos é bastante grande. Eu não vejo o porquê do Guerlles ter saído ou não ser um dos quatro homens de confiança, pelo trabalho que o Guerlles realizou. O Guerlles fez um trabalho excepcional na cidade. Depois, o Guerlles me confidenciou que não foi nem convidado para fazer parte do novo quadro administrativo. Eu entendo o porquê dele não ser convidado. O Guerlles é pré-candidato a deputado estadual. Todas aquelas pessoas que têm condições de ser candidato e não estão no partido do senhor prefeito, do irmão e da cunhada [a deputada Cida Borghetti], estão fora. Estão sendo privilegiadas aquelas pessoas que vão dar voto para o prefeito e seus parentes na cidade de Maringá e nas cidades circunvizinhas.

O senhor esteve na câmara durante o último ano. Gostaria de ter a chance de retornar aos trabalhos legislativos?
Eu gostaria de fazer um trabalho, o que comecei a fazer e não pude. Eu acho que a Câmara de Maringá precisa de gente que tenha compromisso com a população. Precisa de gente que não tenha compromisso com o presidente da câmara [John Alves Corrêa] e nem com o prefeito, e que não vá lá para ficar fazendo gracinha. Eu acho que é uma função importantíssima. Nós temos 15 vereadores para mais de 200 bairros. Entendo eu que deveríamos ter 50 vereadores, com salário apenas simbólico e que representassem de verdade os nossos bairros. Mas não é o que eu vejo. Mas o ponto principal disso tudo é saber que, eu voltando ou não, eu sozinho não consigo resolver todos os problemas. Tem muita gente lá que tem boas intenções, mas tem muita gente lá apenas como meio de emprego.

O Legislativo maringaense tem o perfil que o senhor esperava?
Tem o perfil que eu esperava que tivesse. Tem gente que está lá tão somente para complementar uma renda. Infelizmente, é isso. Tem muita gente que depende de muitas situações lá dentro. Que troca um voto por um cargo e assim sucessivamente. Isso não é política. Isso é clientelismo. Mas se a gente não jogar um pouquinho de areia, nós nunca vamos conseguir fazer a nossa praia. Então, cada um tem que colocar um pouquinho de areia, dar a sua parcela de contribuição. Mas eu friso: tem gente boa na câmara, mas as pessoas que têm esse pensamento de fazer uma Maringá melhor não conseguem crescer.

Em várias ocasiões, o senhor reclamou de projetos que apresentou e estavam engavetados ou foram rejeitados nas comissões. O que aconteceu?
Aconteceu que eram projetos que realmente iriam repercutir. Por exemplo, teve um projeto já aprovado no Rio de Janeiro, já aprovado em Joinville (SC), que garantia desconto no estacionamento de shoppings e bancos, mas não passou. A Comissão de Constituição e Justiça disse que era inconstitucional. Como advogado, não vejo inconstitucionalidade nenhuma naquilo se vai beneficiar tanta gente. Então, o que beneficia a população é inconstitucional? Só o que beneficia o proprietário é constitucional? Essa é uma questão que deveria ter sido discutida em plenário. Não poderia ser brecado por três pessoas que fazem parte de uma comissão. E mais um detalhe: tendo a colaboração do jurídico da câmara. As argumentações que eles colocaram não convencem. Tudo que não é proibido, é juridicamente permitido. Era permitido que aquele projeto fosse ao plenário pra gente discutir e quem tivesse conhecimento colocasse aos nobres edis os pontos favoráveis e contrários. Infelizmente, não me deram essa oportunidade.

Há uma nítida dificuldade de acessos aos documentos na câmara – inclusive por parte dos vereadores. Na sua opinião, por que isso acontece?
O presidente de um clube de futebol tem que administrar as contas do clube e dar uma norma geral. Mas não pode escalar os jogadores, do contrário não precisaria de técnico. Na Câmara de Maringá funciona mais ou menos da mesma forma. Se você quer um documento, tudo tem que passar na mão do presidente. O “treinador” não resolve. O presidente monopoliza a câmara. Até para saber quem eram os assessores nomeados pelo vereador Guerlles em meu gabinete, demorou quase um mês. A moça disse que para passar a informação tinha que ver se o presidente autorizava. Um absurdo. Inclusive, eu fiz um requerimento a respeito dos parentes. Até eu ter a resposta, demorou 40 dias. E quem veio me trazer a resposta foi o presidente. Mas ficou enrolando, enrolando e só veio à tona com o pedido da Promotoria [de Defesa do Patrimônio Público]. Então, o problema da tramitação de documentos é que o presidente barra tudo.

A câmara ganhou destaque nos noticiários nos últimos três meses do ano por casa da compra de notebooks e tripés por preços supostamente superfaturados, conforme concluiu a denúncia proposta à Justiça pelo Ministério Público. O senhor foi um dos vereadores que defendeu a instalação da CPI. Por causa disso, sofreu algum tipo de pressão?
Não sofri pressão alguma. Inclusive a minha assessora foi conversar com a vereadora Marly [Martin Silva] e ela disse que iria fazer [o requerimento para abertura da comissão de investigação]. Ela tomou essa atitude, imagino eu que por eu ser suplente, talvez acreditasse que eu sofreria algum tipo de pressão. Mas eu assinei porque é uma coisa que tinha ser feita. Se o presidente não tivesse nada a temer, por que não deixou instalar a CPI? Eu não devo, eu não temo. O problema é todo esse: ele manda e desmanda. E tem gente que aceita isso. Eu, particularmente, não aceito. Eu tenho minha forma de interpretar essa situação. E até um dia antes de eu sair da câmara não foi me entregue o laptop. Também não foi feito por escrito o pedido de desistência. E não só eu, mas tem mais dois ou três vereadores que disseram que não querem o laptop. Eu queria saber o que a câmara vai fazer com esses laptops. Será que vai devolver? O que vai fazer com esse dinheiro? O prefeito deu uma resposta sobre o que ele pensa dos laptops. Pelo menos eu penso que ele deu uma resposta, quando ele comprou aquele laptop por menos de R$ 5 mil. E se nem todos vereadores receberam os laptops, onde estão eles? Estão parados? Vão ser devolvidos?

Agora, fora da câmara, o que o senhor diria sobre a compra dos notebooks?
Eu diria o que já disse quando estava lá. Eu acho que estão superfaturados. Eu acho que todos os vereadores deveriam ter sido consultados. Eu não fui e a maioria não foi. Tudo que se faz na câmara tem que ter transparência e não houve transparência na aquisição desses computadores. É uma imoralidade.

Que erros o senhor apontaria no tratamento que seus ex-colegas de câmara deram a esse tema?
Muita gente sequer analisou os documentos da licitação. Muita gente se deixou levar pela conversa amigável do senhor presidente. Muita gente se omitiu não querendo saber disso e muita gente sequer falava sobre isso. Para eles era normal essa aquisição. A minha resposta em relação a isso foi o depoimento que dei no Ministério Público e foi minha assinatura, a primeira para pedir a apuração.

O senhor citou em alguns momentos dessa entrevista o controle que o presidente tem sobre os demais vereadores. Na sua opinião, por que aceitam passivamente esse tipo de situação?
Eu e mais uns dois ou três vereadores não participávamos de muitas reuniões que eram convocadas pelo presidente. Eu tenho a impressão que esses vereadores que simplesmente aceitam o que o presidente fala devem ter cargos lá. Um cargo aqui, um amigo ali e acabam se entregando por causa disso. Ficam com o “rabo preso” por causa de um cargo aqui, um cargo lá.

A população tem representantes que dignificam o voto dado pelos eleitores?
Tem. Vou citar alguns. O vereador Humberto Henrique, o vereador Mário Hossokawa. [Pensa um pouco...] Eu vou ficar por aqui.

Só os dois?
É gente que fica lá, que trabalha, fiscaliza.

Se o senhor pudesse propor uma reforma de comportamento e ações na câmara, que reforma proporia?
Acho que os vereadores deveriam levar mais a sério a função deles. Tem muita coisa que só “enche lingüiça”. Eu vi vereadores ocuparem a tribuna, discursando para defender a troca do nome de ruas, discursando para fazer o tempo passar. Só para a sessão não terminar tão cedo. Eu acho que deveria usar a tribuna quem pretende falar alguma coisa produtiva. Aquela tribuna é usada para fazer politicagem. Então, quer for usar, que seja breve, pare de enrolar. A vereadora Marly, por exemplo, usa a tribuna demais. É uma boa vereadora? É, mas usa demais. A vereadora Edith [Dias] também. Tem gente que fala “inhaca” lá.

Na última semana, a economia de R$ 1 milhão de um orçamento de R$ 2,8 milhões da Câmara de Apucarana gastou destaque em Maringá. O Legislativo de lá tem 11 vereadores e paga R$ 4,7 mil de salário para cada um deles; o de Maringá tem 15 e paga R$ 5,7 mil, mas o orçamento ultrapassa R$ 9 milhões. O senhor diria que a Câmara de Maringá gasta demais?
A Câmara de Maringá tem um orçamento de R$ 800 mil mensais. O Imposto de Renda dá uns R$ 180 mil. Sobra uns R$ 600 mil. Se fosse passado um pente fino em assessores nomeados pela câmara, acho que nós teríamos condições de devolver dinheiro para a prefeitura. Da forma como está hoje a câmara, nós não vamos ver nunca devolver dinheiro. Porque se tem dinheiro faz um favorzinho para um vereador aqui, ele vota um projeto comigo e está tudo certo. Está entendendo como funciona? Se está sobrando dinheiro, vamos gastar. Pelo menos é o que eu pude perceber nesse ano que eu estive lá. Se sobrou dinheiro, vamos dar um cargo para alguém aqui; afinal de contas, é mais um voto lá pra frente. É assim que funciona a câmara. Então, não espere devolução. Pelo menos por enquanto. De repente, quando mudar a presidência, podemos ter alguma coisa diferente.

9 pitacos:

Anônimo,  21:24  

Não me simpatizava com ele. Agora, passei a admirá-lo.

Anônimo,  00:31  

Fica a pergunta:
Por quê só agora?
Será que caso o Guerles não tivesse voltado e o Becker ainda estivesse la ele teria vindo com essas conversas?
Não sei não. Mas antes tarde do que nunca

Anônimo,  09:50  

O Becker pode continuar atuando mesmo sem mandato. Que tal fiscalizar, como cidadão, acompnhando tudo que se passar na Câmara. Pedindo informações. Liderar a apresentação de projetos de iniciativa popular. Pedir e constestar se for o caso as prestações de contas. Ou ainda criar uma ONG no s moldes da que foi criada em Ribeiraao Claro- São Paulo, para fiscalizar executivo e legislativo.

Anônimo,  12:17  

Ah,Josenilton... tem que ver se é verdade que ele falou isso mesmo. De repente pode ser inventado, pra sair por cima, por despeito, pra se destacar desde já para as próximas eleições.

Anônimo,  16:24  

Isto relato nesta entrevista é uma realidade estampada em todo nosso brasil, aqui em joinville acontece a mesma coisa, votase pelo interece de um partido, diferentimente como deveria ser, votar pelo interece do sidadão comum. Quantas boas ideia foram perdidas somente pq o idealizador da ideia era do partido de oposição ao governo, isto tinha q mudar, os candidatos ao serem eleitos teriam que ter uma visão apartidária, sempre visando o bem comum do cidadão. Parabéns Umberto vc tem esta visão tão importante, luta realmente pelo bem estar do cidadão!!!!!!!!

Comentário TC a entrevista publicada no jornal Hoje Maringá deste domingo, com o advogado Umberto Becker, que assumiu como vereador por um ano, tornando-se o primeiro vereador do PPS. A entrevista foi feita por Ronaldo Nezo.

Anônimo,  10:44  

Precisamos de mais pessoas como
umberto Becker na camara quem sa
be assim,diminui a corrupção.
Esta chegando a hora de mudar essa
panela.Chega de poucos com muito e
muitos com pouco.

Anônimo,  18:47  

Está de parabéns o Brasil precisa de gente como vc . E Maringá também espero que no dia 05 a população tenha conciência e vote certo e saiba tb que isso é verdade ...Obrigada Umberto estou com vc ....

Anônimo,  11:08  

que pena umberto, ainda não foi dessa vez. Mas não desista a sua hora ha de chegar.

Anônimo,  19:40  

na verdade foi mais um lá que nao fez nada pela populçao de maringa , usou de desculpa que sozinho nao dava!!! pq foi entao dinheirinho de salario de vereador é bom né , cuidado com sua arrogancia.

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