10.12.05

Um vice cara-de-pau

Está na Veja desta semana, em reportagem de Chrystiane Silva e José Edward: José Alencar, que se enrolou no caso das camisetas vendidas ao PT, não tem o que reclamar dos juros. Sua empresa tomou 421 milhões de reais do atual governo, a taxas favorecidas.
Um trecho:
Alencar não viola nenhuma lei ao fazer isso. Há décadas, empréstimos subsidiados têm sido legalmente usados para fomentar a economia e, é claro, agradar a apaniguados e amigos do rei. Mas os juros baratos do empresário Alencar acabam encarecendo o crédito como um todo. Já que não controla o fluxo de empréstimos como os de Alencar, que têm taxas fixas ou alheias a suas decisões, o BC é obrigado a dobrar a dose dos juros quando quer conter a inflação. E o resto do país paga a conta. Para entender como isso ocorre, basta imaginar uma represa cuja vazão ocorre por três comportas. Para evitar o excesso de vazão, é preciso reduzir o fluxo de água igualmente em cada uma delas. Se uma das três comportas não puder ser controlada, será necessário fechar ainda mais as outras duas. A comporta que não pode ser fechada são os empréstimos subsidiados. As outras duas são os empréstimos que o resto do país toma. Portanto, se estivesse mesmo preocupado com os escorchantes juros pagos pelos pequenos empresários e consumidores brasileiros, o vice cara-de-pau poderia lançar uma frente, dentro do governo, para acabar com a mamata dos juros subsidiados que sua empresa e outros grandes grupos nacionais recebem.

Seria uma irresponsabilidade afirmar que a Coteminas é uma companhia de padrão global só porque recebe empréstimos subsidiados. Mas é inegável que a relação promíscua entre o empresário Alencar e o político Alencar alimenta desconfianças. Na semana passada, o jornal Folha de S.Paulo revelou que a Coteminas recebeu do Partido dos Trabalhadores, em dinheiro vivo, 1 milhão de reais. O montante seria parte do pagamento de uma dívida de 12,2 milhões de reais, contraída nas eleições municipais de 2004 para a confecção de 2,7 milhões de camisetas. Muitas suspeitas rondam essa venda. Inicialmente, o hoje ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares, disse que o pagamento do dinheiro constava da contabilidade oficial do PT. Depois, afirmou que os reais vieram dos empréstimos que o lobista Marcos Valério avalizou para o partido. Mesmo essa versão, na qual Delúbio admite irregularidades, carece de amparo na realidade. Há seis meses, Valério divulgou uma lista dos repasses que ele teria feito em nome do PT. O dinheiro pago à Coteminas não consta dela. "Ou Valério omitiu o nome de José Alencar ou estamos diante de um caixa três do PT", diz o deputado Gustavo Fruet, da CPI dos Correios.

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